O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou o desejo de colegas da Esplanada dos Ministérios de ampliar investimentos públicos para ajudar na retomada econômica a uma tentativa de "bater a carteira" do governo em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Guedes não citou diretamente nenhum ministro, mas nos bastidores ele travou duros embates com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, a quem hoje considera um desafeto. A desavença se deu porque Marinho queria aliviar regras fiscais para turbinar investimentos com dinheiro público por meio do Plano Pró-Brasil.

"A crise é da saúde. Não pode alguém achar, no momento em que fomos baleados, caímos no chão, tá uma confusão danada e temos que ajudar a saúde, alguém vem correndo, bate a nossa carteira e sai correndo. Isso não vai acontecer", avisou Guedes em entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

Após receber apoio público do presidente Jair Bolsonaro à condução atual da política econômica, o ministro da Economia ressaltou que o programa do presidente pressupõe manter o Brasil "no trilho". "O presidente sabe a missão dele, tem noção e conhece o próprio programa. E o programa dele era esse. Nós vamos manter o Brasil no trilho", disse.

Ele classificou de "oportunismo político", "irresponsabilidade fiscal" e "imperdoável perante a população" permitir um aumento de gastos abrindo caminho para a farra eleitoral ou o "protagonismo excessivo de um ministro aqui ou ali".

Guedes afirmou que a retomada da economia "não é repetir erro de governos passados", citando tentativas feitas por outras gestões de turbinar a atividade por meio de obras públicas. "Cavaram enorme buraco e quebraram o Brasil. Quando nós chegamos, o Brasil estava quebrado exatamente por esse caminho. Então nós não vamos caminhar cavando mais fundo para ver se saímos do buraco. Ninguém consegue sair do buraco cavando mais fundo no próprio buraco", disse o ministro.

"Que algum ministro queira e pense fazer algo desse tipo é natural, normal, todo mundo quer ajudar. Agora, se isso passa no nosso teste mais amplo é outro assunto", acrescentou.

Guedes deu entrevista ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, que na semana passada apresentou o Plano Pró-Brasil sem nenhum integrante da equipe econômica. O anúncio repercutiu mal no mercado diante das desconfianças de que o governo deixaria de lado o ajuste nas contas e as reformas para ampliar gastos mesmo após a crise.

O ministro da Economia tratou de desfazer qualquer suspeita de mal-estar entre ele e a Casa Civil e trocou um aperto de mãos com Braga Netto, afirmando: "estamos juntos". Ao se dar conta de que a cena contraria a recomendação de autoridades de saúde para evitar risco de contágio pelo novo coronavírus, o ministro da Casa Civil disse "vão falar que apertamos a mão e não podia". Em seguida, ambos passaram álcool em gel nas mãos para a desinfecção.

Guedes disse que o governo passou das reformas para as medidas emergenciais, uma virada que requer sinalização clara "para todo mundo" de que o Brasil "tem rumo". Segundo ele, "apenas alguns ministérios num momento como esse estão vislumbrando novos espaços de ação". A posição foi corroborada pelo ministro Braga Netto, para quem o Brasil fará "o retorno ao trilho dentro do que estava planejado".