O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que lockdowns e outras medidas de restrição de circulação para conter o avanço do novo coronavírus terão menos impacto na atividade econômica neste ano do que tiveram no início da pandemia de Covid-19.Em relatório, a instituição afirma que os lockdowns terão peso reduzido, por serem de menor escala e mais concentrados do que foram em 2020. Além disso, um número maior de setores da economia está mais adaptado ao trabalho remoto e ao distanciamento agora do que quando a Covid-19 eclodiu e pouco se sabia sobre a doença.Nas economias desenvolvidas, ainda são esperadas restrições ocasionais à circulação de pessoas, para tentar conter a propagação de novas cepas do vírus. Conforme a população mais vulnerável for vacinada, porém, espera-se que as atividades sejam retomadas e ocorra uma aceleração do consumo, impulsionada inclusive pela demanda reprimida nos últimos meses.Para os mercados emergentes, o ritmo lento de compra de vacinas sugere que a proteção contra o vírus permanecerá distante para a maioria da população. Assim, mais lockdowns e medidas de distanciamento ainda podem ser necessários até o ano que vem, aumentando a distância no ritmo de recuperação entre esses países e as economias desenvolvidas.Na visão do Fundo, o acesso desigual dos países às vacinas vai ditar o ritmo de recuperação: enquanto nos países ricos e em alguns emergentes é esperada uma oferta ampla de imunizantes ao longo deste ano, boa parte do mundo terá mesmo de esperar pela vacina até a segunda metade de 2022."Os caminhos divergentes de recuperação provavelmente criarão lacunas significativamente maiores nos padrões de vida entre os países em desenvolvimento e os outros", escreveu a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, no documento. Também em sua avaliação, a perda de PIB per capita (uma das formas de medir o padrão de vida) deve ser maior entre os emergentes.A indústria está tentando produzir três vezes o nível normal de vacinas, mas enfrenta gargalos, como o fornecimento de insumos."Os países, portanto, precisam trabalhar juntos para garantir uma ampla quantidade de vacinas em todo o mundo", disse a economista do FMI.No começo do mês, a instituição reforçou que o Brasil deveria dar prioridade ao programa de vacinação para que a recuperação não perdesse força. O FMI reconhece que as medidas de apoio à população, como o auxílio emergencial, evitaram que o país tivesse uma queda maior no ano passado, mas adverte que muito ainda precisa ser feito em 2021.Na quarta-feira (21), no entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, revisou o calendário de vacinação contra a Covid-19 no Brasil e adiou o fim da imunização do grupo prioritário em quatro meses, de maio para setembro.Nesse cenário, após uma queda acentuada em 2020, uma recuperação tímida é esperada para a América Latina e o Caribe em 2021. O PIB do Brasil deve crescer 3,7%, e a previsão de crescimento para a região (4,6%) fica abaixo da média mundial, de 6%.Já para o PIB global, considerando o avanço da vacinação em parte do mundo, as projeções mais recentes para 2021 e 2022 são, respectivamente, 0,8 e 0,2 ponto percentual maiores que no ano passado.Esse otimismo considera os pacotes fiscais de recuperação econômica lançados por alguns países, como os EUA, que aprovaram um estímulo de US$ 1,9 trilhão em março. A ajuda deverá impulsionar ainda mais o PIB americano, tanto em 2021 quanto no ano seguinte, com impactos significativos para os principais parceiros comerciais dos EUA.Com isso, a projeção é de uma recuperação global mais robusta no segundo semestre, estimulada pelo avanço na produção de vacinas. O FMI estima que os EUA retornem aos níveis de atividade de antes da pandemia já no primeiro semestre deste ano. Na zona do euro e no Reino Unido, a recuperação tende a ser mais lenta: ela deverá permanecer abaixo dos níveis pré-Covid até 2022.O FMI lembra que, com exceções (como Chile e México), a maioria dos países latino-americanos não garantiu vacinas suficientes para imunizar suas populações.Outra exceção é a China, onde medidas eficazes de contenção da doença e investimentos públicos facilitaram a forte recuperação do país, que foi um dos poucos a ter PIB positivo em 2020 e deve crescer 8,4% neste ano, de acordo com o FMI.