Após o pior setembro desde 2005 no comércio automotivo, o terceiro trimestre termina com queda nas vendas e na produção de veículos. Os resultados fizeram a Anfavea (associação das montadoras) revisar previsões e trabalhar com dois cenários para o fim do ano.

Foram fabricadas 173,3 mil unidades no último mês, o que representa uma alta de 5,6% em relação a agosto. Na comparação com o mesmo período de 2020, a produção caiu 21,3%. Os dados incluem carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.

Com os resultados, o terceiro trimestre fechou com 500,9 mil unidades fabricadas, uma queda de 16,8% em relação ao mesmo período de 2020.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, diz que os principais problemas que interferem nas linhas de montagem são os mesmos desde o início do ano: dificuldades logísticas e falta de peças, principalmente semicondutores. Sem esses microchips, os carros ficam parados nos pátios, à espera de componentes eletrônicos.

"Há muitos veículos incompletos, que ainda não foram incluídos no estoque. Por isso trabalhamos com dois cenários, com média entre 160 mil e 190 mil unidades produzidas por mês", diz Moraes.

As novas projeções da Anfavea são baseadas na incerteza: caso haja uma regularização do fornecimento de semicondutores, cerca de 570 mil veículos deverão sair das fábricas entre outubro e dezembro. Dessa forma, o ano fecharia com 2,219 milhões de veículos leves e pesados produzidos, alta de 10% em relação a 2020.

Contudo a visão mais conservadora -e mais provável- prevê que as dificuldades se repetirão no quarto trimestre, e a produção ficará em 2,129 milhões de unidades, um crescimento de 6% ante o ano passado.

Qualquer um dos cenários é frustrante. A entidade já havia revisado as projeções em julho, quando previu que 2,46 milhões de veículos leves e pesados seriam fabricados neste ano, uma alta de 22% sobre 2020. Em janeiro, a associação calculava que haveria um crescimento de 25%, com 2,52 milhões de unidades.

Quanto às vendas, a Anfavea trabalha com uma queda de 1% no cenário conservador e uma alta de 3% na visão mais otimista.

A Fenabrave (associação dos revendedores) também revisou seus dados diante da queda de 25,3% nos emplacamentos na comparação entre os últimos meses de setembro. A entidade prevê agora uma alta de 3,1%, com 2,01 milhões de unidades emplacadas. Em julho, a expectativa era de um crescimento de 10,7% sobre 2020.

Os caminhões seguem em destaque. O setor deve registrar alta de aproximadamente 60% na produção e nas vendas em 2021 devido, principalmente, ao agronegócio.

Os estoques de veículos seguem baixos. Segundo a Anfavea, há carros suficientes para atender a 17 dias de comercialização, mas quem encomendar algum dos modelos mais procurados só deverá recebê-lo no segundo trimestre de 2022.

Com os problemas de produção, Moraes afirma que apenas no ano que vem as montadoras terão uma ideia melhor de qual será o verdadeiro tamanho do mercado. Contudo, na visão do executivo, haverá outros desafios, como os aumentos dos custos de produção e o encarecimento dos financiamentos devido às altas na taxa básica de juros.

"Temos que ter alguém pensando nos benefícios que a indústria traz para a sociedade. A gente tem o plano Safra, precisamos ter também o plano Indústria, que traz empregos de alta qualificação", diz o presidente da Anfavea. "Não estou defendendo só o setor automotivo, mas, sim, a indústria de transformação."

O período eleitoral traz outras preocupações ao setor, como um possível aumento na volatilidade do câmbio e atrasos na definição de novos investimentos por parte das matrizes. Moraes cita o exemplo da Alemanha, "que passa por um período eleitoral sem prejuízos à economia". "O debate faz parte da democracia, mas não podemos parar o país por causa da eleição."