O calendário das captações externas brasileiras com o fim das férias no Hemisfério Norte, em setembro, deve seguir pontuado por operações para administração de passivo e para composição de capital dos bancos. Mas alguns grandes nomes, especialmente exportadoras que têm necessidades não relacionadas unicamente à economia doméstica, também podem antecipar-se a 2015, quando existe expectativa de alta do juro norte-americano e o excesso de demanda, que tem mantido os custos em níveis bastante baixos, pode diminuir.

Nesse último grupo, de exportadoras, podem aparecer emissões da Petrobras e da Vale. A Petrobras, por exemplo, teoricamente teria uma emissão em euros e libras esterlinas pendente em 2014, já que a feita no início do ano corresponde à operação do calendário de 2013. A petroleira normalmente faz duas grandes emissões no ano, uma em dólares e outra em euros ou libras.

Mas de modo geral, a previsão é de que o volume de captações até o final do ano dificilmente alcançará o total dos primeiros sete meses do ano, que já bate o total de 2013 não só para o Brasil, mas para todos os emergentes. Por aqui, as eleições e o fraco desempenho econômico tiram qualquer visibilidade das companhias sobre necessidades de investimento no futuro e, para muitos profissionais, é o principal motivo da falta de interesse de acessar o exterior.

Por outro lado, os fundos não param de comprar títulos de dívida de empresas e a percepção dos profissionais de dívida é a de que esse movimento se manterá, contribuindo para segurar o prêmio das emissões em níveis bastante baixos e atraentes aos potenciais tomadores. Até mesmo o juro do note de 10 anos, referência para as captações e que junto ao prêmio forma o preço (custo) da emissão, segue bastante comprimido. Hoje, o juro do note de 10 anos está nos menores níveis do ano, ao redor de 2,30%, mesmo que grande parte do mercado prevendo uma elevação do juro para o meio de 2015 e até antes disso.

"Na semana que vem devem começar os anúncios de novas operações (no mercado de modo geral) e veremos como está o apetite", disse Sandy Severino, chefe de captações externas do BTG Pactual. "Há muitas empresas olhando, mas a falta de crescimento no Brasil está prejudicando bastante, porque não faz sentido captar com uma atividade econômica tão fraca. A questão econômica está represando muito a iniciativa das empresas", acrescentou.

De janeiro a setembro, as captações brasileiras, incluindo a operação de US$ 3,55 bilhões do Tesouro, alcançam US$ 37,5 bilhões, superando o total de US$ 36,2 bilhões captado em 2013. Entre emergentes, o total captado até 20 de agosto já era recorde, somando US$ 836,2 bilhões, de acordo com a Dealogic, consultoria de dados sobre o mercado financeiro.

Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI, afirma que, mesmo frente a esses números exuberantes de captações realizadas até o momento, a liquidez dos fundos tem impressionado e sido superior ao que se esperava para esse período. "Hoje o tomador é rei", diz, lembrando, ao mesmo tempo, uma importante escassez de ofertas.

Para ilustrar tal apetite, Miranda destaca que o prêmio do bônus do Tesouro com vencimento em 2025 fechou 32 pontos-base durante as férias de agosto no Hemisfério Norte e os da Petrobras com vencimento em 2024 estreitaram 50 pontos-base. "Existe um momento ótimo e único que tende a mudar a partir de 2015, por conta da alta do juro norte-americano, portanto, é possível que algumas companhias pensem antecipar operações que fariam no ano que vem", observou.

O executivo do Bradesco BBI explica que a escassez de novas emissões, não só brasileiras quanto de outros emergentes, tem feito com que os fundos não só marquem forte presença nas emissões primárias, mas também limitem as vendas no mercado secundário, contribuindo ainda mais para a queda dos prêmios das colocações primárias. "A visão desses fundos é a de que, até que efetivamente o juro norte-americano comece a subir, os bônus de dívida continuarão se valorizando, em virtude da falta de papéis e do fato de que há muito capital entrando, por isso, não vendem as posições que têm", disse.

BTG Pactual

Entre os possíveis bancos que devem aproveitar esse momento para emitir bônus para composição de capital está o BTG Pactual. Em entrevista sobre o balanço do segundo trimestre concedido ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o diretor de Relações com Investidores do BTG Pactual, João Dantas, afirmou que o banco poderá realizar duas emissões até o final do ano para composição de capital seguindo as regras do Basileia 3.

Segundo ele, o banco deve levar ao exterior inicialmente uma operação para composição de capital nível 1 e, posteriormente uma segunda para composição de capital nível 2. Ele acrescentou que a segunda operação de capital nível 2 poderia ser colocada junto a um grupo privado de investidores, mas indicou que não há definição sobre isso também.

A Caixa fez a primeira operação de bônus subordinados para composição de capital nível 2 de um banco brasileiro, no montante de US$ 500 milhões em julho, e o Banco do Brasil a maior emissão de bônus nível 1 da América Latina e por um banco de país emergente, que somou R$ 2,5 bilhões, em junho.