Até a última quarta-feira, 18, uma academia da região Sul de Palmas seguia aberta e com pessoas espalhadas em diversos equipamentos. O dono do local e personal, Robertson Barreto, de 44 anos, disse em entrevista ao Jornal do Tocantins durante a manhã, que tinha decidido manter a academia aberta porque os exercícios também são fundamentais para prevenção. “As informações estão um pouco invertidas, mas a academia é um ambiente onde aumenta a imunidade e, consequentemente, previne o coronavírus”, explicou.

Conforme o empresário, a academia redobrou todos os cuidados e higienização, aumentou o número de álcool gel em toda a academia e antes do uso de qualquer equipamento, o personal faz a higienização com álcool 70%. Ele frisou ainda que o faturamento caiu, porque mesmo com as medidas e conscientização dos alunos sobre a importância de continuarem se exercitando, houve uma queda brusca na frequência. “Nós orientamos a virem nos horários de menor fluxo, até para não lotar a academia, mantemos a normalidade e a calma em relação a tudo com muito cuidado, mas ainda assim diminuiu muito tanto aqui quanto em várias outras academias”, destacou o proprietário na ocasião.

No entanto, após o decreto publicado pela Prefeitura de Palmas na noite da última quarta que suspende o funcionamento do comércio e outros serviços (mantendo apenas supermercados, hospitais e serviços essenciais abertos) para conter o avanço do coronavírus, a academia amanheceu fechada. Em contato telefônico, Barreto explicou que é preciso seguir a orientação da gestão. “Temos que respeitar, até porque sem decreto ou não isso já atingiu a todos, mas o momento agora e de cuidados com nossas famílias, em especial os idosos e o grupo de risco, e com a sociedade de um modo geral e isso passará”, frisou.

Assim como algumas academias se mantinham abertas, a advogada Jessica Martins, 30 anos, continuava frequentando normalmente até ontem. Conforme ela, a academia que frequenta não tinha alterado o funcionamento e continuava aberta com as devidas medidas de prevenção. “O movimento diminuiu bastante, a academia disponibilizou vídeos com exercícios para serem feitos em casa se o aluno preferir, mas eu continuei indo, com meu próprio álcool gel e garrafa de água, evitando contato”, disse, na última quarta.

No entanto, pouco depois da entrevista, ela recebeu o informe de fechamento do estabelecimento por pelo menos 15 dias. A decisão da academia veio antes mesmo do decreto municipal de fechamento, mas depois do primeiro caso de coronavírus confirmado no Tocantins. No informativo publicado nas redes sociais, o estabelecimento explicou que o cenário vem mudando muito rapidamente e suspendeu as atividades em toda a rede de academias no Brasil e América Latina “pensando no bem-estar dos clientes e colaboradores”. A rede decidiu também por abonar os dias fechados nas próximas mensalidades dos clientes e criar uma plataforma de treinos para clientes ou não.

Motorista por aplicativo

A rotina dos motoristas por aplicativo, taxistas e mototaxistas também mudou devido a pandemia. Segundo o presidente da Associação dos Motoristas Autônomos e por Aplicativo do Tocantins (Amaap-TO), Dennis Camilo, 34 anos, alguns motoristas chegaram a parar de trabalhar, mas outros precisam continuar. “Boa parte da categoria depende unicamente da renda advinda das corridas, então continuam trabalhando mas usando bastante álcool gel, alguns até máscaras, higienizando o carro de hora em hora com álcool 70%, andando com as janelas abertas e evitando algumas corridas para aeroporto e hospitais por exemplo”, explicou.

Camilo conta que decidiu por parar de fazer corrida nestes dias por diversos fatores. “Eu já estava pegando menos corridas, mas com essa situação decidi parar até por ter filhas pequenas em casa, acabamos ficando muito expostos nas ruas e podendo trazer contaminação para a casa”, considerou.

Restaurantes

Os restaurantes também estão proibidos de abrirem por tempo indeterminado para evitar aglomerações segundo o decreto Nº 1859. No entanto, a determinação da prefeitura Cinthia Ribeiro exclui das restrições “o atendimento mediante serviço de entrega”. Tendo em vista essa exceção, aqueles restaurantes que contavam com delivery decidiram intensificar esse serviço e fechar as portas para recebimento de clientes presencialmente. A dona de um restaurante na região Sul da capital, Rosa Eufrasio, contou que já fechou o estabelecimento, mas continua atendendo por delivery. “Esse decreto nos pegou de surpresa, é tudo novo e estamos nos readequando. Fomos obrigados a fechar o restaurante, já fechei e liberamos alguns funcionários mas vamos ficar atendendo delivery”, informou.

Outro restaurante que atendia tanto de dia, com almoços e a noite com happy hour, também fechou para atendimento presencial, mas passou a intensificar ainda mais o delivery para evitar um prejuízo grande. “Vamos respeitar o decreto e estamos fazendo adequação para atender e fomentar mais ainda o delivery que já fazíamos. Readequamos os funcionários na cozinha e adequamos também o cardápio para atender todos os clientes, colocamos marmitex fitness que antes não fazíamos e à noite incluímos a jantinha no cardápio, já que antes eram mais petiscos”, explicou o empresário Fábio Silva.

Conforme Silva, antes do decreto ele já havia percebido a redução no movimento do restaurante em pelo menos 40% e a prioridade do estabelecimento agora é manter a equipe, evitar demissões, por isso redirecionou o foco para o delivery. “Vamos nos adequar a realidade, fechar por completo não está no nosso plano, temos compromisso com nossos funcionários e clientes. Estamos tomando todas as precauções, usando as medidas do manual de boas práticas que já fazíamos antes, treinando os funcionários para o mínimo de contato possível e aumentar a higienização”, frisou.

‘Boom’ do delivery

Segundo o head de marketing e expansão de uma empresa de delivery por aplicativo, Daniel Bueno, neste momento de crise, o serviço de entrega que antes era visto como comodidade agora se tornou essencial. “Nossos pedidos aumentaram em pelo menos 15% na Capital só nessa semana, além do aumento de novos estabelecimentos inclusive casas de ração, lojas de cosmesticos e outros. O delivery é uma forma de impactar menos o negócio, é uma válvula de escape para o empresário”, destacou.

Bueno explica que, para atender a nova demanda cada dia mais crescente, a empresa está reforçando a infraestrutura tecnológica e logística, com contratação de mais entregadores. “Estamos treinando nossos colabores em caráter de urgência e nos esforçando para atender a demanda de novos estabelecimentos na parte comercial, além da parte de marketing que estamos usando muito para conscientizar os clientes também, trazer ofertas mais atrativas”, afirmou.

Algumas das medidas são o envio de mensagens pela plataforma aos usuários para fomentar o pagamento online ou com uso de cartão contact para evitar o máximo de contato. “A prevenção é a nossa preocupação mais latente. Todos os nossos entregadores que hoje já são 150 ativos tem um kit de higienização consigo e o cliente pode solicitar no ato da retirada do pedido a higienização dos alimentos e da maquininha de cartão, caso tenha que usar”, completou.

Só em Palmas, já são 453 estabelecimentos cadastrados no aplicativo, mas o número vem aumentando diariamente com a nova realidade nacional. A empresa também atua em Paraíso, Araguaína, Gurupi e Porto Nacional, sendo que em todos os lugares houve aumento no número de pedidos, segundo Bueno.

Além do uso de delivery como uma maneira de prevenção e também de evitar o fechamento de empresas, o especialista alerta a população sobre a necessidade de continuar comprando dos pequenos e médios empreendedores. “Temos feito muitas campanhas de conscientização nas plataformas e mensagens, acreditamos que é um momento muito delicado na história do mundo e o que prezamos é pela união de todo mundo, por isso é preciso valorizar os parceiros locais porque entendemos que a economia sofrerá um impacto grande nesse período e é importante que demos um voto de confiança para garantir a sobrevivência dos parceiros locais”, finalizou.

Hotéis

O decreto não prevê o fechamento de hotéis, mas ressalta que os restaurantes exclusivos para hóspedes devem manter uma distância mínima de dois metros entre as mesas e essa é uma das medidas tomadas por um hotel da Capital. Conforme o gerente Edilson Honório Carlos, o hotel continua funcionando, apesar de pelo menos 19% de cancelamentos nos últimos dias. Para dar segurança, o hotel colocou álcool gel em vários locais ao redor do estabelecimento, além de máscaras e informativos.

"Nossos colabores também foram bem treinados para evitar contato e como se prevenirem, estão usando luvas, máscaras e as limpezas nos quartos estão sendo reforçadas com higienização intensificada com álcool nas maçanetas, redores das camas, torneiras, abrir as janelas e priorizar os apartamentos com sacadas. Com esses cuidados internos estamos conseguindo reverter essa situação", explicou.