O cenário internacional já adverso ganhou novo ingrediente nesta segunda-feira, 12, com as eleições primárias na Argentina, que apontaram para a derrota do atual presidente, Mauricio Macri. Os temores do ressurgimento de uma política intervencionista no país vizinho, com risco de calote e outros desdobramentos, atingiram em cheio a Bolsa brasileira. Entre as ações mais penalizadas estiveram as de empresas com atividade econômica na Argentina, principal parceiro do Brasil no Mercosul. O Índice Bovespa terminou o dia em baixa de 2,00%, aos 101.915,22 pontos. Em dólares, a perda no final do pregão foi de 3%.As quedas do Ibovespa foram generalizadas entre as blue chips, com destaque para bancos. O bloco de maior peso na carteira do Ibovespa teve perdas expressivas, como Banco do Brasil ON (-3,39%), Itaú Unibanco PN (-4,14%) e Bradesco PN (-2,09%). Os papéis de Petrobrás e siderúrgica também se sobressaíram entre as quedas. Gerdau PN caiu 2,71% e Petrobras PN recuou 2,69%.Entre as ações da carteira do Ibovespa, a maior queda foi de Gol PN (-7,20%), afetada pela alta do dólar e pelas atividades da empresa nos países da América do Sul. CVC ON, que recentemente adquiriu o grupo argentino Almundo, dobrando sua participação na Argentina, caiu 3,02%. Entre as altas do dia, a liderança ficou com empresas exportadoras, beneficiadas pela alta do dólar e pela expectativa de resultados positivos. JBS ON subiu 5,76%, Marfrig ON ganhou 3,59% e Suzano ON avançou 1,25%.DólarO dólar chegou a superar R$ 4,00, influenciado pela Argentina. Pela tarde, os ânimos se acalmaram, quando o peso reduziu o ritmo de alta após o banco central argentino injetar recursos no mercado e subir os juros, mas o clima de cautela prosseguiu. Além da crise no país vizinho, a tensão comercial entre os Estados Unidos e a China e a intensificação dos protestos em Hong Kong contribuíram para estimular a fuga de ativos de risco e fortalecer o dólar ante moedas emergentes. O dólar à vista fechou em alta de 1,09%, a R$ 3,9834, maior nível desde 28 de maio, quando terminou em R$ 4,02.Faltou moedaCom a inesperada vitória por ampla margem nas eleições primárias de ontem do candidato peronista Alberto Fernández, operadores relatam que pela manhã, faltou dólar no mercado, pois não havia vendedores da moeda americana. Os grandes bancos preferiram reter dólar em seus cofres e agentes menores, como bancos pequenos e médios e corretoras de câmbio, ficaram sem conseguir comprar."Não tinha contraparte", afirmou o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressaltando que isso retirou a liquidez do mercado. Após a volta do almoço, com as notícias de ação do Banco Central da Argentina, que fez várias intervenções (usando reservas e vendas de títulos) e ainda elevando os juros, a situação se normalizou um pouco. "Houve surpresas aqui, o mercado não tinha precificado totalmente a volta de Cristina Kirchner", afirma. Por isso, primeiro houve uma reação forte, com o mercado precificando o pior cenário e, depois, houve uma reavaliação, com os agentes corrigindo exageros.Operadores relatam ainda que operações de hedge feitas recentemente pelos grandes investidores não previam que um dólar acima de R$ 4,00 fosse vir agora, sobretudo porque há menos de 15 dias a moeda americana era negociada na casa dos R$ 3,70. Por isso, na máxima do dia, a R$ 4,0127, atingida pela manhã, o dólar desencadeou ordens de "stop loss", para reduzir os prejuízos.Risco de caloteCom esse temor, o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos da Argentina, um seguro contra calotes da dívida e termômetro do risco-País, disparou 105% hoje, para 2.069 pontos. Durante o dia, chegou a superar os 2.100 pontos."Parece que um default poderia vir em uma questão de meses [após a posse do novo presidente]", avalia o economista-chefe da Capital Economics, William Jackson. Se esse temor aumentar, as moedas de emergentes vão permanecer "na linha de fogo". Para ele, a piora do mercado hoje no país vizinho vai colocar a dívida pública em mais de 100% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) pode pedir uma reestruturação antes das eleições de outubro.Com o cenário externo mais adverso, o banco americano JPMorgan elevou a estimativa para o dólar no Brasil no final de 2019 de R$ 3,90 para R$ 4,00. Eventos positivos no mercado doméstico, como a expectativa de que a reforma da Previdência deve ser totalmente aprovada no Senado até outubro, estão sendo ofuscados por eventos no mercado internacional, principalmente a intensificação da tensão comercial entre China e Estados Unidos e agora a Argentina.Com o noticiário internacional agitado, o volume de negócios foi alto hoje no câmbio, com giro de US$ 20 bilhões no mercado futuro até às 17h15. O dólar para setembro subia 0,98% neste horário, para R$ 3,9865. Na máxima, chegou a R$ 4,02.