Em conversa com apoiadores em Eldorado, interior de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que está dialogando com intermediários e com representantes de grandes redes de supermercados para tentar evitar uma alta maior nos produtos da cesta básica.

O presidente disse que não irá dar "canetadas", mas pede "patriotismo".

O preço de produtos como arroz e feijão tem sido uma queixa constante nas redes sociais do presidente, especialmente relacionadas à decisão do governo de reduzir para R$ 300 o auxílio emergencial que será pago até dezembro.

Em vídeo publicado por um dos canais bolsonaristas, o presidente se aproxima de um grupo de pessoas e pergunta se o arroz e o feijão estão "subindo muito", e recebe uma resposta afirmativa. ​

"Só para vocês saberem, já conversei com intermediários, vou conversar logo mais com a associação de supermercados para ver se a gente ... não é no grito, ninguém vai dar canetada em lugar nenhum", disse o presidente, continuando depois: "Então estou conversando para ver se os produtos da cesta básica aí... Estou pedindo um sacrifício, patriotismo para os grandes donos de supermercados para manter na menor margem de lucro."

"Ninguém pode trabalhar de graça. Mas a melhor maneira de controlar a economia é não interferindo. Porque se interferir, der canetada, não dá certo", acrescentou.

Bolsonaro justificou o aumento de preços pelo pagamento do auxílio emergencial, que levou as pessoas a gastarem "um pouco mais."

"Muito papel na praça, a inflação vem", disse.

Levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP mostra que as commodities agrícolas de fato tiveram altas recordes nos últimos meses, puxadas também pela alta demanda externa e influenciadas pela queda do real perante o dólar, além do fato da demanda interna não ter caído pelo pagamento do auxílio emergencial.

O enfraquecimento da moeda brasileira faz o produto nacional ficar mais barato lá fora e aumentar a exportação, enquanto a demanda interna não caiu. Trigo, milho e arroz seriam os produtos da cesta básica que mais subiram de preço, de acordo com o Cepea. A alta do arroz teria sido de 100% em 12 meses e do milho, de 65%.

Na quinta-feira (3), associações representativas do setor de supermercados lançaram notas públicas chamando a atenção para a alta de preço de itens da cesta básica, que chega a superar 20% no acumulado de 12 meses em produtos como leite, arroz, feijão e óleo de soja.

“O setor supermercadista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. A Abras (Associação Brasileira de Supermercados), que representa as 27 associações estaduais afiliadas, vê essa conjuntura com muita preocupação”, escreveu a entidade em nota oficial.

“Reconhecemos o importante papel que o setor agrícola e suas exportações têm desempenhado na economia brasileira. Mas alertamos para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtornos no abastecimento da população, principalmente em momento de pandemia”, completou a entidade.

Também a Apas (Associação Paulista de Supermercados) se posicionou sobre o tema.

"O arroz e feijão estão perdendo cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros, em função do aumento das exportações destes produtos, além da diminuição das importações, motivadas pela mudança na taxa de câmbio", observou a entidade paulista.

"Somando-se ao câmbio competitivo, há a conjunção de quebra de safra e o crescimento da demanda interna impulsionada pelo covid-19, que trouxe maior consumo de produtos básicos --tanto pelo auxílio emergencial quanto pelo deslocamento do consumo fora de casa para dentro do lar."

As entidades afirmaram que estão buscando interlocução com o governo para tratar do problema.