A Bolsa de Valores brasileira iniciava o primeiro pregão da semana em baixa nesta segunda (7). A pressão da alta dos combustíveis sobre a inflação está no radar do mercado devido ao seu potencial de estimular medidas que afetem a arrecadação. A preocupação com o risco fiscal voltava a aparecer em destaque nos relatórios de analistas a investidores.

Às 12h29, o Ibovespa, índice referência da Bolsa, subia 0,04%, a 112.260 pontos, depois de ter passado toda a manhã em queda. O dólar caía 0,60%, a R$ 5,2920.

A atuação do Banco Central ao tentar remediar a alta da inflação por meio do aumento da taxa Selic é um dos fatores que sustenta a queda da moeda americana. Juros altos aumentam a atratividade da renda fixa brasileira para investidores estrangeiros, que trazem seus dólares para o país.

Para o mercado de ações, porém, a valorização da renda fixa representa concorrência. A alta da Selic pode, portanto, exercer pressão negativa sobre o desempenho da Bolsa.

Analistas de mercado se mostravam menos preocupados com os juros domésticos neste início de semana. Em vez disso, destacavam os movimentos do presidente Jair Bolsonaro (PL) em busca de uma resposta rápida para controlar a inflação.

O governo já teme um pico de inflação no terceiro trimestre deste ano, no auge da campanha eleitoral. Essa preocupação deflagrou a decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL) de patrocinar a PEC (proposta de emenda à Constituição) que vai permitir reduzir tributos sobre combustíveis.

Em seu relatório matinal, o Banco Original destacou que a equipe econômica ainda insiste na ideia de que a redução dos tributos seja feita por meio de projeto de lei, e não PEC. Isso, em tese, amenizaria o impacto sobre a arrecadação.

A Genial Investimentos alertou que, após um ciclo de altas da Bolsa em janeiro, o fim do recesso parlamentar volta a trazer os ruídos da política para o mercado.

Também entra como destaque na análise da corretora propostas em tramitação no Congresso que permitem a retirada dos impostos sobre combustíveis, sem compensação de aumento de outros impostos, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal.

"Se todos os estados e o governo federal caminharem nesta direção, poderemos ter uma redução de receitas tributárias e um aumento do déficit primário entre R$ 57 bilhões e R$ 100 bilhões. Risco fiscal na veia", escreveram os analistas da Genial.

Risco fiscal é o nome que o mercado dá à possibilidade de que a União não seja capaz de cumprir o seu Orçamento. Ao ampliar gastos e abrir mão de receita, o governo eleva esse risco. Em períodos que antecedem eleições presidenciais, preocupações com o risco fiscal costumam provocar quedas na Bolsa e altas no dólar, pois investidores buscam segurança em ativos ligados à moeda americana.

A fonte da pressão sobre o preço dos combustíveis é a alta do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent, referência mundial, subia 0,19%, a US$ 93,45 nesta manhã. A comodity está no patamar mais elevado desde 2014.

É o desbalanceamento entre a oferta apertada mantida pelos principais países exportadores e a elevada demanda o principal responsável pela alta do petróleo. A crise envolvendo a Rússia, que ameaça invadir a Ucrânia, piorou esse cenário. A Rússia é um dos principais produtores e um conflito poderia reduzir ainda mais a oferta.

Alvo de críticas do mundo político devido à sua política de preços de combustíveis, que segue a variação do mercado internacional, as ações da Petrobras não conseguiam se aproveitar da alta do petróleo. Os papéis da estatal recuavam 1,41%.

Entre os destaques positivos do início da sessão da Bolsa brasileira, a BB Seguridade subia 3,3%. A empresa apresentou um balanço com resultados acima da expectativa do mercado.

Nos Estados Unidos, investidores tentam avaliar se os dados de geração de emprego e do comportamento dos rendimentos na economia americana, que vieram bem acima do esperado na semana passada, vão aumentar a pressão sobre o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) para acelerar o aumento de juros. A taxa, atualmente zerada, tem previsão de começar a subir em março.

Os principais índices do mercado americano estavam mistos. O Dow Jones recuava 0,08%. O S&P 500, referência da Bolsa de Nova York, subia 0,09%. A Nasdaq avançava 0,87%.