Ex-repositor e pacoteiro de supermercado, o indígena Dercivaldo Karajá, de 54 anos, é um dos 14,4 milhões de brasileiros desempregados no Brasil. Esse número é o estimado para o trimestre encerrado em fevereiro, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada nesta sexta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quantitativo de desempregados tem o maior contingente desde 2012, quando teve início a série histórica. Em percentual, a taxa de desemprego atingiu 14,4%.Apesar de estar nessa estimativa, o problema com desemprego de Dercivaldo tem uma história muito mais longa. Natural da aldeia Karajá de Santa Isabel do Morro, em São Félix do Araguaia (MT), o indígena mora no Tocantins há oito anos e está há pelo menos cinco desempregado. O indígena trabalhou em um supermercado da Capital até 2015, quando perdeu o emprego após o estabelecimento fechar. Desde então, Dercivaldo busca por uma vaga.O karajá contou que veio ao Tocantins para estudar e por muito tempo dormiu no alojamento indígena de Palmas. Chegou a estudar Direito na Universidade Federal do Tocantins (UFT) até o quarto período, mas precisou pausar o curso devido à pandemia da Covid-19.Apesar de o desemprego bater à sua porta em 2015, foi nesse mesmo ano que conheceu a atual esposa, também indígena de Itacajá, da etnia Kraô Canela. Hoje, tem quatro filhos e teve o último recurso de sustento da família cortado. Beneficiário do Bolsa Família, o indígena disse que o valor mensal que ajudava nas contas de casa recentemente foi bloqueado.Para sobreviver, Dercivaldo passou a pedir ajuda no centro de Palmas. “Preciso muito de ajuda para não passar necessidade. Por isso vivo aqui pedindo, por favor. Agradeço muito quem ajuda. Também tem quem passa e grita para procurar emprego. Mas já recebi muito ‘não’ nessa busca”, disse. A história de Dercivaldo chegou ao Jornal do Tocantins após a redação encontrar o indígena na JK com um cartaz pedindo ajuda: "Preciso de ajuda para comprar uma cesta básica ou um gás. Tenho quatro filhos pequenos. Se puder doar uma cama ou brinquedo".Desemprego Em um ano de pandemia, houve redução de 7,8 milhões de postos de trabalho, segundo o IBGE. O recorde da série histórica da Pnad Contínua, para todos os trimestres do ano, são os 14,6% registrados no período de julho a setembro de 2020. Em relação ao trimestre encerrado em novembro, são 400 mil desempregados a mais. Em um ano, são 2,1 milhões de pessoas a mais procurando emprego.Considerando a relação de emprego, o número de pessoas com carteira assinada no setor privado, excluindo domésticos, ficou em 29,7 milhões de pessoas em relação ao trimestre anterior. Em um ano, são 3,9 milhões de pessoas a menos. O número de empregados sem carteira, que são 9,8 milhões de pessoas, também ficou estável no trimestre, mas com perda de 1,8 milhão de vagas em um ano.O número de trabalhadores por conta própria é de 23,7 milhões. São 716 mil de pessoas a mais na comparação trimestral, mas uma perda de 824 mil ocupações em relação ao mesmo período de 2020. A taxa de informalidade subiu de 39,1% para 39,6% no trimestre. Novas vagas Em contraste com os números do IBGE e a própria história de Dercivaldo, o Brasil criou 184.140 vagas com carteira assinada no país em março. No acumulado, desde janeiro, o saldo no mercado de trabalho formal brasileiro é positivo, com a abertura de 837,1 mil vagas num período de crise provocada pela Covid-19, conforme os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério da Economia nesta semana. Entretanto, apesar desse saldo positivo na criação desses postos, o número é baixo em comparação aos 14,4 milhões de brasileiros desempregados identificados pelo IBGE. Tocantins No Tocantins, no mês passado houve 6.825 admitidos e 5.417 demitidos, o que resultou no salto de 1.408 vagas novas de emprego. O número tocantinense representa a variação de 0,75% no Estado, a maior na região Norte do País. No contexto, que no mês passado várias medidas de restrição foram tomadas pelas administrações municipais e também as estaduais devido ao aumento de caso e de mortes, esse número é positivo. De janeiro a março, foram 21.492 admissões nos três primeiros meses contra 15.957 demissões. O número de vagas criadas devido à diferença entre as contratações e desligamentos ficou em 5.535, variação de 2,99%. Neste sábado, 1º, Dia do Trabalhador, a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) fará uma live para repassar informações importantes para os trabalhadores tocantinense, além de uma análise atual do mercado de trabalho no Estado. A live será às 11 horas no canal no YouTube da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas).