Apesar de ser um ano marcado por uma pandemia e por medidas de isolamento social, em 2020 houve menos pedidos de seguro desemprego que nos anos anteriores. No ano passado, 35.034 trabalhadores deram entrada no benefício, o número é aproximadamente 3,5% menor que em 2019 e quase 14% que cinco anos antes, em 2015. Os dados são da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) do Tocantins. Para o professor e economista Waldecy Rodrigues, o número desse fenômeno é impressionante, e por hipótese, os programas governamentais para fazer com que as empresas não demitirem seus empregados funcionaram no Tocantins “No ano passado, surpreendentemente o saldo de emprego foi positivo. As empresas mais contrataram do que demitiram. Na linha do tempo, existe uma relação entre saldo de emprego e pedido de seguro desemprego”, explicou o especialista. Em regra, conforme Rodrigues, quando cresce o saldo de emprego e reduz o pedido de seguro desemprego. A tabela elaborada pelo especialista com base nos dados, mostra a relação de solicitações e salto de empregos de carteiras assinadas. Quando haviam mais pedidos o saldo estava em queda, quando as solicitações de seguro começaram a desunir, o inverso ocorreu.No Tocantins, alguns setores podem ter impulsionado esses números ao longo dos últimos anos. O especialista se baseia nos dados setoriais de 2020, que segue um ritmo nos anos anteriores. “Todos os setores da economia do Tocantins apresentaram tendência positiva na geração de empregos. Principalmente a Construção Civil e o Agronegócio. Isto explica em grande parte a menor demanda pelo seguro desemprego”, esclarece. Mesmo em meio à pandemia, a atividade econômica no que tange a geração de emprego manteve seu ritmo, conforme a análise de Rodrigues. “Nossa economia depende muito do agronegócio, este continuou sua trajetória de crescimento”, alertou. No caso específico, do último ano, o economista ainda lembra que o fenômeno do desemprego e a menor procura pelos seguros-desemprego podem ter outros elementos associados. “Um deles é justamente a não procura pela contratação. Não se deve ficar restrito somente aos dados, é preciso observar o contexto”. Nesse contexto, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostraram que a variação relativa no saldo de empregos foi de 3,83%, com 67.147 admissões, contra 59.876 desligamentos, deixando um saldo positivo de 7.271 novos postos. O Estado teve um dos melhores desempenhos do País. Essa situação para a Secretaria do Trabalho mostra a capacidade reativa que a economia tocantinense tem de superar a crise global, como ocorreu também durante a crise econômica de 2015 e 2017. O Tocantins foi um dos últimos Estados a entrar no processo e um dos primeiros a sair dele.Além disso, o professor também alerta que boa parte dos empregos formais do Tocantins vem do setor público. O especialista calcula que cerca de 30% são trabalhadores ligados diretamente aos municípios e Estado. E apesar das mudanças nos demais setores e a percepção de aumento das contratações nos anos decorrentes, o setor público quase não teve alteração, e também não demanda seguro-desemprego. Atendimentos Em relação ao número de pedidos atendidos, o índice se manteve acima de 90%, entretanto, em 2020 o número ficou um pouco menor que nos anos anteriores. Em 2020, das 35 mil solicitações, 91% chegaram a ser atendidas. Em números totais 31.869 trabalhadores tiveram acesso ao benefício, que garante a assistência financeira temporária ao trabalhador dispensado sem justa causa e tenham carteira de trabalho assinada. Nos anos anteriores o percentual sempre ficava acima dos 94%, com exceção de 2015, que ficou em 93%. Confira os números na íntegra: 2015 registrou 40.724 solicitações com 38.091 atendidas – Taxa de habilitação 93,5% 2016 registrou 37.935 solicitações com 35.903 atendidas – Taxa de habilitação 94,6% 2017 registrou 36.937 solicitações com 35.044 atendidas – Taxa de habilitação 94,9% 2018 registrou 37.332 solicitações com 35.198 atendidas – Taxa de habilitação 94,3% 2019 registrou 36.303 solicitações com 34.372 atendidas – Taxa de habilitação 94,7% 2020 registrou 35.034 solicitações com 31.869 atendidas – Taxa de habilitação 91,0% 2021 (até março) 8.455 solicitações com 7.354 atendidas – Taxa de habilitação 87,0% Em 2021De janeiro a março de 2021, ainda conforme os dados da Setas, o setor com maior movimentação de requerimentos de seguro-desemprego foi o comércio com 34%, seguido dos serviços com 29%. Em terceiro lugar ficou a agropecuária com 16% das solicitações, tendo um pouco mais que a construção civil, com índice de 12% dos pedidos. Já a indústria teve a menor participação, com 9%. Ainda sobre estatísticas, conforme a Setas, 68,8% dos requerimentos foram realizados por trabalhadores que têm como nível de instrução escolar o segundo grau completo. Em números gerais, 5.647 eram trabalhadores com ensino médio completo. Com um quantitativo bem abaixo, em segundo lugar ficou os requerentes com fundamental incompleto, sendo 821 casos. Já o ensino superior ficou com 458 pedidos registrados no sistema. Dos requerimentos do benefício de seguro-desemprego realizados no mais da metade, 50,3% possuíam entre 30 e 49 anos. Em números absolutos, o Tocantins teve 2.813 solicitações nessa faixa etária, seguido da faixa de 25 a 29 e 18 a 24 anos, que tiveram 1.778 e 1.774 pedidos, respectivamente. Por fim, no que se refere ao sexo dos novos desempregados, no Tocantins de janeiro a março de 2021, 66% são de pessoas do sexo masculino e 34% do sexo feminino. 6 Dos requerimentos do benefício de seguro-desemprego realizados no Tocantins de janeiro a março de 2021, mais da metade 50,3% possuíam entre 30 e 49 anos. Tendência Web A pandemia mudou os hábitos ao redor do mundo, deixando o planeta mais online. No Brasil não foi diferente e essa mudança é perceptível até mesmo na forma de se solicitar o seguro desemprego. Com a Covid-19, os trabalhadores precisaram acessar o benefício por meio do aplicativo Carteira de Trabalho Digital. Somente de janeiro a março de 2021, dos mais de 8,4 mil, 7.454 utilizaram a web. O número representa 88,2% das solicitações ao benefício. Conforme a Setas, apenas 823 precisaram da intervenção da equipe no Estado do Sistema Nacional de Empregos (Sine) para resolução de divergências no sistema. “Além dos ganhos para o trabalhador, a digitalização de alguns serviços do Sine desafoga os atendimentos e nos dá condições de focar em orientação e capacitação profissional além de captação de vagas”, disse o diretor do Sistema no Tocantins, José Alberto. Já em 2020, em comparação com o mesmo período, houve uma inversão no comportamento. No ano passado, 7.823 dos requerimentos de seguro se deram de forma presencial e apenas 962 pela internet. Em perceptual ficou em 11% em 2020. Ao analisar o ano todo, o número de solicitações nesse formato representaram 69,10% do total de pedidos, assim 24.210 requerentes dos mais de 35 mil. Para o Trabalho e Desenvolvimento Social, desde setembro de 2019 que o Ministério da Economia e do Emprego (MTE) começou a divulgar amplamente a ideia da utilização dos aplicativos do Sine Fácil e CTPS Digital. Naquele ano, no Tocantins, apenas 1,30% dos pedidos ocorreram por meio digital. Entretanto, com o advento da pandemia e a alteração no modo de operação de atendimento presencial para atendimento remoto, o mercado se viu obrigado a “se adaptar” ao atendimento pelos canais da web. De 2020 para 2021, de janeiro a março, o número de atendimento presencial sofreu uma redução de 87,2% enquanto o número de atendimento via “web” cresceu 674,8%.