O aporte bilionário no Nubank, recheado de nomes de peso do mercado financeiro, como o mega investidor Warren Buffett e o gestor Luis Stuhlberger, do Fundo Verde, coloca a descentralização do sistema bancário brasileiro em outra perspectiva.A leitura é que a aposta em um negócio com características tão peculiares quanto as do Nubank sinaliza que o mercado local está no radar dos grandes investidores e que outras fintechs nacionais podem atrair aportes generosos.Com a nova injeção de recursos, o valor dos investimentos captados pelo Nubank junto a investidores desde a sua fundação, há oito anos, totalizam US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,1 bilhões)."Novos 'Nubanks' ainda vão surgir", afirma Diego Perez, presidente da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs). "Há um público que ainda não estava sendo completamente atendido pelas instituições financeiras tradicionais, e isso com certeza deve intensificar as mudanças que já vêm acontecendo no mercado e abre espaço para novos empreendedores."Um dos sinais de que o mercado visualiza a transformação do setor foi o salto no valor de mercado da fintech. No dia de anúncio da captação, o valor de mercado da Nubank foi estimado em US$ 30 bilhões (R$ 151 bilhões).Ou seja, chegou a superar o valor da corretora XP, então avaliada em US$ 22,9 bilhões (R$ 115 bilhões), e encostou no banco BTG (R$ 115 bilhões). Desde janeiro deste ano, seu valor é maior do que o do Banco do Brasil, cotado em R$ 104 bilhões.O Itaú tem valor de mercado de R$ 302 bilhões, e o Bradesco, de R$ 255 bilhões, enquanto o Santander Brasil é avaliado em R$ 170 bilhões.O novo aporte de US$ 1,15 bilhão (R$ 5,8 bilhões) recebido pelo Nubank reforça a sua posição na corrida que busca desburocratizar e intensificar a concorrência no sistema financeiro, afirmam executivos do setor.A extensão da última rodada de investimentos do banco digital -que havia sido iniciada em janeiro deste ano, quando havia levantado US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões)- foi anunciada na semana passada e alcançou US$ 750 milhões (R$ 3,8 bilhões).O maior investimento, de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões), foi feito pela Berkshire Hathaway, gestora de Buffett. Os outros US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) vieram de gestoras como a americana Sands Capital e as brasileiras Verde Asset e Absoluto Partners.Segundo o Nubank, o capital levantado será utilizado para apoiar três grandes frentes de desenvolvimento: expansão do portfólio de produtos e ampliar a penetração no mercado, crescimento internacional e atração de talentos globais.Pontos como a mudança de hábitos do consumidor para uma vida mais digital -tanto em função da pandemia do coronavírus como por questões geracionais- também são pontos que intensificam o processo de inovação do sistema financeiro."Não basta só dinheiro, é mais do que isso. Os bancos tradicionais têm muito dinheiro, mas o exemplo que o Nubank dá é o da paixão do usuário pela marca. É preciso criar produtos que atendam as necessidades do consumidor e criar uma cultura de excelência", afirmou o cofundador do Distrito, plataforma de inovação aberta, Gustavo Gierun.Em relatório, a Moody's afirmou que o levantamento de capital também traz perspectivas positivas de crédito para o banco digital, uma vez que ajudará a instituição em sua estratégia de expansão."A nova capitalização permitirá que o Nubank continue a investir na diversificação de negócios complementares no Brasil como parte de sua estratégia de crescimento. [...] A abordagem estratégica do Nubank é baseada no significativo potencial de vendas de sua base de clientes, que se aproxima dos maiores bancos comerciais tradicionais do Brasil", afirmou o relatório.Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que é favorável a medidas que estimulem a competição e a entrada de novos participantes, preservando-se a isonomia de regras."Dados do REB (Relatório de Economia Bancária) do BC mostram um movimento persistente de redução da concentração bancária, acompanhado pelo aumento da competição no setor. Ressaltando que concentração e competição são conceitos distintos, e não devem ser entendidos como causa e efeito", afirmou a federação.De acordo com a Febraban, dados do Banco Central apontam que a redução da concentração bancária no período ocorreu especialmente em função da menor participação dos bancos públicos federais, que deram lugar a uma maior participação de instituições que não se encontram entre as cinco maiores no segmento.