-Imagem (1.2355446)Através de um aplicativo, onde absolutamente cada centavo que sai do bolso é anotado, o administrador Juarez Silva, 41 anos, conta que no ato de suas compras a atualização é automática. Na praticidade do celular, ele divide as finanças em categorias como: alimentação, mercado, farmácia, trabalho, cuidados pessoais, educação, investimentos, lazer e hobbies, pets, doações, impostos e taxas. “Isso nos ajuda a ter uma visão de gastos por categoria e nos auxilia também no planejamento financeiro familiar de curto, médio e longo prazo onde mensalmente fazemos uma reunião em família para avaliar e direcionar a todos.Mas a vida financeira de Juarez nem sempre esteve ligada à organização. Ele relata que casou em 2005 e no começo sofreu com a disparidade de gastos na vida conjugal. “Então em meados de 2008 unificamos as contas e passamos a ter esta organização e disciplina para juntos sairmos de uma vida difícil de gastar mais do que ganha para um equilíbrio e realização dos nossos sonhos”.Com o equilíbrio das contas e a liberdade para equilibrar as finanças dentro de casa, o administrador afirma que o primeiro passo para a mudança foi entender seus limites. "Com isso, foi possível de forma programada e consciente conquistar a casa própria, um carro novo, fazer viagem de férias e manter uma reserva para emergências e também para o futuro dos filhos”. Juarez está conseguindo escalar o caminho das pedras, mas esse trajeto é difícil e tem se tornado quase impossível para muitos brasileiros, porque economizar dinheiro é uma prática aparentemente desproporcional em 2021. Em muitos lares o faturamento mensal mal dá para pagar as contas ou até mesmo colocar comida dentro de casa. Segundo uma pesquisa do Poder Data, divulgada no mês passado, apenas 40% da população brasileira teria R$ 200 disponíveis para uma emergência. E, entre aqueles que responderam ter esse valor, 55% afirmaram que não poderiam arcar financeiramente com um imprevisto acima desse valor. O estudo ainda mostrou que a faixa etária é um fator determinante. Segundo a pesquisa, enquanto 70% dos pesquisados até 24 anos não contavam com uma reserva de R$ 200 para emergências, entre os maiores de 60 anos, mais da metade (59%) teria o dinheiro nos momentos de necessidade.Mas como multiplicar o peixe e fazer render o dinheiro no final do mês? Esse cálculo dá para ser fechado? Pensando na dificuldade de administrar as finanças diante da infração e da alta nos produtos básicos da mesa do brasileiro, como arroz, feijão e carne, o Jornal do Tocantins ouviu um especialista em finanças para indicar como traçar essa escala financeira nos tempos atuais. Assessor de Desenvolvimento do Cooperativismo de uma cooperativa de crédito no Tocantins, Paulo Brum, ressalta que falar de educação financeira também implica em mudança de comportamento. “Quando temos pessoas que não conseguem comprar o básico, a medida é outra, é de amenizarmos os custos da família, porque custos são como unha, precisamos cortar periodicamente, depois entramos na fase de economizamos”, indica.Mas como fazer essa conta no final do mês? O especialista afirma que o segredo está não apenas em quanto se ganha, mas sim quanto se gasta mensalmente. “Mesmo pessoas com poder de aquisição bem menor descobrem que seus gastos poderiam ser reduzidos. Nossas compras são muito mais emocionais do que racionais e todos nós, sem exceções, podemos reduzir nossos custos se reduzíssemos nossas emoções”, aposta.CréditosBrum pontua que 86% das pessoas endividadas, alegam estar com dívidas no cartão de crédito e isso já é um sinal que ele é um dos vilões. Em consonância com a afirmação, não somente pessoas físicas, mas jurídicas entram nesse quantitativo. Um indicador de demanda das empresas por crédito da Serasa Experian apontou que a busca de empréstimos para empresas teve alta de 16,1% em setembro deste ano no Brasil, em comparação com o mesmo mês de 2020. A elevação da procura por crédito, conforme o estudo divulgado, pode ser percebido em todos os segmentos. Mas especialmente no setor de serviços .Em relação ao porte, as micro e pequenas empresas (MPE) foram as que mais aumentaram a procura por crédito em setembro, em comparação com setembro do ano passado (alta de 16,4%), seguidas pelas médias (8,9%) e as grandes (8,3%).De acordo com o índice, o crescimento da demanda por crédito foi maior na região Sul (18,2%), seguida pelo Sudeste (16,2%), Norte (15,8%), Centro-Oeste (14,7%) e Nordeste (13,9%).Construções sociaisEntre as alternativas para não se endividar no final do ano e não passar a virada do vermelho, Brum destaca que a primeira delas é saber que a economia doméstica não se improvisa. Se prepara durante todo o ano. "É muito mais raro vermos pessoas se endividando no final do ano, geralmente viemos ultrapassando nossos limites durante o ano todo, contudo, a soma não vai bater em dezembro”.O consultor garante que um bom segredo é fugir de construções sociais que levam ao endividamento. “Somos influenciados por propagandas, vontade de nos sentirmos aceitos, amigos, redes sociais… Muitos só se sentem completos se adquirirem algo que tanto querem e, às vezes, aí entra a cilada financeira.Por último, ele ressalta que a conta é básica, para não se endividar, o consumidor deve evitar gastos desnecessários. “Não comprar aquilo que não precisamos, com o dinheiro que não se temos para impressionar quem nós nem conhecemos. Sabendo disso, cabe a nós, vigiarmos onde temos pontos fracos e combatê-los diariamente”.O empresário Fábio Souza, dono de um restaurante na capital, contou que, durante a pandemia, precisou não apenas renegociar as dívidas, mas também pegar um empréstimo para ajustar os débitos que vieram com a recessão econômica causada pela crise sanitária. Segundo ele, mesmo antes de buscar uma instituição financeira para pegar um empréstimo, ele já calculou o que poderá pagar dessa dinheiro que pegou emprestado. “Não adiantava ter dinheiro naquele momento se depois a gente não ia conseguir arcar com a dívida. Era uma emergência, precisámos do crédito. Mas como tudo que fazemos na empresa, de forma pensada, o dinheiro que pegamos financiado foi utilizado de forma consciente e por conta de todo nosso planejamento já está sendo quitado", garante.