O dólar teve mais um dia de recorde histórico, a sétima máxima somente neste mês, encerrando a quarta-feira, 19, em R$ 4,3656, com valorização de 0,19%. Foi a terceira alta consecutiva e, no ano, o ganho da divisa americana se aproxima de 9%. A moeda dos Estados Unidos está se valorizando em todo o mundo e hoje o índice DXY, que mede o comportamento do dólar ante uma cesta de moedas fortes, atingiu o maior nível em quase 3 anos, influenciado pelo melhor desempenho da economia americana que outras regiões, como a zona do euro, China e Japão.No mercado doméstico, os juros baixos e a decepção com indicadores de atividade, além de ruídos políticos, em meio a temores de saída do ministro da Economia, Paulo Guedes - após declaração de Jair Bolsonaro - ajudam a pressionar ainda mais o câmbio, fazendo o real ter pior desempenho que outros emergentes.A busca por hedge cambial (proteção) também segue pressionando o dólar aqui. Investidores do Brasil e de outros emergentes têm aumentado a busca por proteção, seja para apostas em outras moedas, seja para cobrir posições em outros mercados, como na Bolsa, de acordo com um diretor de tesouraria.O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, observa que, com a queda dos juros, o real deixou de ser uma "moeda de carrego", ou seja, para operações de carry-trade (tomar dinheiro em país com juro baixo e aplicar em outro de juro alto). O banco não vê neste momento a moeda americana caindo abaixo de R$ 4,00 até o ano que vem. A estimativa é de dólar em R$ 4,15 tanto em dezembro de 2020 como em 2021.A expectativa do Itaú é que com a retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil atraia fluxo de capital externo, compensando ao menos em parte o baixo diferencial de juros do país com o resto do mundo, avalia a economista do Itaú, Julia Gottlieb. Ela observa que, no curto prazo, o cenário internacional tem pressionado o câmbio, por conta da aversão ao risco gerada pelo coronavírus. A decepção com os recentes dados de atividade também pesou, além dos juros baixos, disse ela. "Com a retomada de crescimento devemos ver um fluxo de capital maior para o Brasil." O Itaú manteve hoje a projeção de alta do PIB em 2,2% este ano e 3% em 2021.A disparada do dólar também foi comentada hoje em evento pelo banqueiro sócio do BTG Pactual, André Esteves. "O dólar nesse nível tem surpreendido de certa maneira a todos nós." O executivo ressaltou que os juros baixos fizeram o real deixar de ser "moeda de carrego" para se transformar em "moeda de financiamento". "Estamos nos adaptando a esta mudança." A diferença da desvalorização do real de agora para outros momentos da história, disse Esteves, é que a Bolsa está subindo e o risco-país, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos não para da de cair, hoje negociado em 92,3 pontos, na mínima em mais de 10 anos.O Banco Central não fez atuação extraordinária hoje no câmbio, somente a operação diária de rolagem dos contratos de swap. Para os estrategistas do Citi, as declarações recentes do comando do BC sugerem que não é óbvia a intervenção da instituição no mercado de câmbio se o dólar voltar a superar o nível R$ 4,38. A última intervenção extraordinária ocorreu no último dia 6, quando a divisa bateu neste nível e hoje a moeda americana voltou a encostar neste patamar, a R$ 4,3775 na máxima.