Completando 32 anos de fundação, a cidade de Palmas ultrapassa nesta quinta-feira, 20, seu segundo aniversário na pandemia da Covid-19. Mais ‘acostumada’ com a crise sanitária, a capital vem buscando alternativas para sobreviver e se adaptar, inclusive financeiramente, junto com seus moradores. Neste segundo aniversário na pandemia, o Jornal do Tocantins mostra o cenário econômico da Capital entre o 30º ao 32º aniversário. Um panorama que mostra tentativas de equilibrar o estrago causado pela pandemia de Covid-19 nos vários segmentos e uma perspectiva do pós-pandêmico. Na avaliação geral de especialistas e empresários, Palmas conseguiu manter um equilíbrio econômico. Mesmo com muitos segmentos, em especial do setor de serviços tendo duras quedas e muitos fechamentos, outros setores conseguiram se manter estáveis e evitar uma situação ainda pior. “O cenário não é otimista, mas ainda podemos dizer que houve um equilíbrio. Lógico que o índice de desemprego aumentou muito na Capital, em especial nos primeiros meses da pandemia. Entretanto, o empresariado apesar de todas as limitações e dificuldades, conseguiu sobreviver bem em alguns segmentos”, afirma o presidente da Associação industrial e comercial de Palmas (Acipa) Joseph Ribamar Madeira. A análise é colaborada com os dados do Novo Caged, em vigor desde janeiro de 2020, quando o uso do Sistema do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi substituído pelo Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Em março, quando a pandemia chegou a Palmas, o Caged mostra saldo negativo de 341 empregos formais. Com estoque de 71.100 empregos formais a capital admitiu 2.463, mas demitiu 2.804. No segundo mês, abril, subiu para 1.651 (875 admissões ante 2.526 desligamentos) e em maio, 1.185. Porém, estes três meses são os únicos com saldo negativo no ano. Segundo Madeira, é notório que os segmentos de entretenimento e turismo sofreram muito e continuam sofrendo, o mesmo ocorre para os setores de empresas que trabalham com a alimentação. “Nesses casos tiveram fechamentos sem reabertura. Temos histórias de pessoas que não conseguiram superar esse momento e não reabriram”, comenta ao citar bares, restaurantes, agências de turismo e empresas especializadas em eventos. Em movimento contrário, supermercados e farmácias conseguiram se manter devido a necessidade de as pessoas justamente terem que ficar mais dentro de casa. “Uma situação curiosa é com relação a comércios do segmento de construção civil. Muito embora também tenham fechado totalmente as portas em momentos de restrições, no geral esse segmento teve uma reação positiva. As pessoas que ficaram em casa perceberam a necessidade de reformas e melhoras”, relata. Mesmo em um cenário trágico de segmentos com dificuldades, houve uma explosão do agronegócio e da alimentação somado com o cenário da construção civil que teve uma boa reação. “Houve uma espécie de equilíbrio para se olhar de forma geral. A economia reagiu melhor que o esperado inicialmente. Boa parte desse cenário não tão pessimista se deve à preparação e adaptação do empresário a esse universo de mudanças. Os comerciantes precisaram se reinventar”, relata Madeira. Para o futuro, em um momento pós-pandêmico, o presidente afirma que, mesmo com o equilíbrio encontrado, será necessária uma soma de esforços para o retorno de todos os segmentos a normalidade. “O poder público precisa primeiramente criar mecanismos para apoiar o empresário, em questões tributárias, linhas de crédito que sejam adequadas à nova realidade. Uma das principais reclamações que recebemos na Acipa é justamente que os créditos continuam com exigências de tempos normais, precisamos que haja uma flexibilização maior. Também não adianta prorrogar os tributos, isso não resolve, porque ocorre um alívio comentário, que depois se transforma em sufoco”, finaliza. Empresariado revela dificuldades e superação A empresária Ana Paula Setti, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Tocantins (Abrasel), comenta que desde março de 2020 o setor está trabalhando de forma negativa. O segmento é sempre o primeiro a parar as atividades quando é baixado um decreto com medidas restritivas e, mesmo após o retorno gradativo, a capacidade de público do setor não alcança os 50%. “É um segmento que mais tem restrições e o mais afetado na pandemia, junto com o setor de eventos. Dentro dessa dinâmica, podemos perceber que foram vários empreendimentos fechados e encerrados de forma definitiva. Mais de 30% dos estabelecimentos desse segmento em Palmas fecharam as portas e, dentro da atividade nacional, mais de 60% não conseguem voltar às suas atividades normais”.Ela também destaca que os bares e restaurantes fazem parte do segmento que menos admitiu e o que mais demitiu na pandemia. “Essas pessoas estão hoje numa zona de desconforto. Durante a pandemia aprendemos que é necessário reinventar, algo novo bem diferente do que é um bar e restaurante. O significado de um bar e restaurante é trazer alegria, compartilhamento e pessoas felizes para dentro de nossas casas, fazendo com que elas interajam e hoje não conseguimos mais dispor desse serviço de forma segura. Hoje estamos atravessando um período de transição e que vem fazendo com que o setor aprenda a fazer algo diferente”.Segundo a presidente da Abrasel, esse "start' para o empresário se inovar, se reinventar e ter oportunidade de trabalhar de outra forma, ainda é tímida na realidade de Palmas. “Na verdade, é muito difícil trabalhar com quem tem casas com capacidade de 300 a 400 pessoas, hoje ter que se limitar a delivery que não alcança 10% do faturamento. Mas eu acredito em um mundo novo, com novas oportunidades e nós estamos prontos e criativos para fazer com que nossos negócios tenham uma retomada segura, fortificada e mais atuante. Espero que possamos retornar às nossas atividades sem precisar acessar novamente. Acreditamos em um futuro melhor para nossos empreendimentos”, finaliza.Em contrapartida, no primeiro ano da pandemia, o mercado imobiliário reagiu e registrou crescimento de 9,8% nas vendas, se comparado a 2019. “Inovação do mercado imobiliário digital, grande procura por imóveis novos e crescimento do setor incorporação com encorajamento de novos lançamentos. Essa foi a receita para um saldo positivo”, aponta o presidente da Associação dos Diretores das Empresas do Mercado Imobiliário no Tocantins (Ademi-TO), Paulo Constâncio.Já neste ano, a expectativa do setor também segue otimista no Tocantins. O mercado imobiliário aposta em um crescimento de 8% no estado, somente no primeiro trimestre da atividade do setor, comparado ao ano passado, conforme aposta da associação. “Mesmo com a pandemia, o mercado imobiliário está em alta no Estado”, afirma o presidente. O impulso no setor, segundo ele, se justifica pela pouca opção de imóveis no mercado imobiliário do Estado, além de ser o único ente da federação que ainda não corrigiu os preços conforme os altos custos e falta dos insumos. “Talvez um dos setores que não foram afetados pela pandemia, seja o mercado imobiliário que continua com crescimento no Estado. Estamos otimistas com os próximos desafios do setor”.Empregabilidade e arrecadação na mesma lógica pré-pandemiaA arrecadação fiscal de uma cidade está intrinsecamente correlacionada com os índices de empregabilidade, conforme o professor e economista Waldecy Rodrigues demonstra com os dados da Capital durante a pandemia. “Impressionante como os números da arrecadação de impostos e da geração de emprego formal seguiram a mesma lógica durante a pandemia. No setor de serviços, o mais afetado em Palmas, houve uma queda de 1,5% de empregabilidade e por volta de 1,5% na arrecadação de Imposto Sobre Serviço (ISS)”, relata o professor. Segundo Rodrigues, ao se analisar o primeiro ano pandêmico se percebe uma queda geral nos dados de formação de emprego, que foi puxado pelo setor de serviços. “Essa queda não foi maior porque o comércio teve um leve crescimento e a construção civil se manteve estagna”, relatou ao analisar os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Para o economista, os dados de contratação e demissão são um indicativo importante para entender como a economia da Capital reagiu à pandemia.Como o setor com mais perdas, as atividades comerciais que ofertam serviços sofrem mais devido a menor circulação de pessoas. “São atividades, em sua maioria, que a população pode evitar se não for necessário. E nesse setor, fica nítido que os serviços que mais sofreram foram a alimentação e a hospedagem”, afirma o professor. Somente em 2020, a queda desses segmentos específicos ficou em 10%. Já nos primeiros meses de 2021, o número é menos expressivo, indicando uma redução nos empregos formais de 1,6%, calcula.Questionado se esse número indica uma tendência a uma melhora, o professor disse que o próximo passo do setor comercial depende justamente do cenário da pandemia da Covid-19. Para Rodrigues, pode ocorrer uma virada de jogo, entretanto, no caso do setor de serviços é preciso que a Capital volte a ter uma movimentação maior. “Palmas é um centro de serviços, precisa da vinda de pessoas do interior e de outros lugares para hotéis e restaurantes voltarem a atender. E isso tem ligação direta com a pandemia. Se a vacinação prolongar a imunidade desejada à rotina poderá voltar ao normal de antes da pandemia. Também depende muito das novas variantes da Covid-19, se as vacinas protegem e qual a duração da eficácia desses imunizantes. Ainda é um momento de incertezas”, finaliza.Caso a pandemia seja contida, a perspectiva para o futuro, ainda deste ano, segundo o economista, é positiva, inclusive para o setor de serviços. Enquanto isso não ocorre, o professor afirma que a queda nos números de empregos formais é natural. “O dado é assustador, mas é o reflexo da pandemia. Também não se dá para isolar esses efeitos”, afirma. Ao ser questionado se essa redução de 10% nos segmentos de hotéis e comércios alimentícios era o esperado com a chegada da pandemia, Rodrigues disse que essa é uma afirmação complicada. “Essa pergunta difícil. Nunca sabe se vai cair tanto ou não vai. Mas podemos dizer que os números estão dentro de um espaço lógico, uma expectativa lógica. Em especial que esses setores têm relação com a movimentação de pessoas na cidade”.“O interessante da reação econômica na Capital é perceber que o comércio não sentiu tanto a pandemia como os setores de serviço. Eu acredito que isso ocorreu pelas alternativas encontradas. Vendas online e sistemas de entrega atenuaram a situação”, explica. Segundo o economista, o setor do comércio no primeiro ano da pandemia teve um leve crescimento de 1,6% no número de contratações e nesse ano já sinaliza um bom retorno, com índice de 0,5%. “Esses dados são de atividade formal, com carteira assinada, e não pegam as contratações de atividades informações como feiras e até mesmo os novos negócios próprios. Mas proporciona uma luz sobre a economia da cidade, mostrando o movimento e comportamento das empresas na Capital”, analisa.Confira na infografia alguns dados econômicos da capital, incluindo dados do comércio exterior. Na infografia seguinte, o saldo de empregos formais anuais entre 2002 e 2019. Os dados de antes da mudança na fórmula de exibição do Caged mostram que a capital teve queda no saldo após as crises econômicas de 2014 e 2016 e voltou a apresentar saldo positivo entre 2017 e 2019.