Uma das principais cadeias produtivas do Tocantins é a da carne cujo valor bruto da produção (VBP) para 2020 está estimado em mais de R$ 8,9 bilhões. Entretanto, cenário positivo mesmo só quando a pandemia do novo coronavírus passar. É o que acredita o presidente executivo do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Carnes Bovinas, Suínas, Aves, Peixes e Derivados do Estado do Tocantins (Sindicarnes), Gilson Ney Bueno Cabral.O presidente pondera que mesmo antes da pandemia do coronavírus, o setor já amargava uma retração devido à dificuldade de matéria prima somada ao aumento da carga tributária, que resultaram em menos postos de trabalho. “Antes dessa crise do coronavírus havia uma grande retração no mercado e agora essa retração foi aumentada. O consumo de carne diminuiu, e como o problema nosso maior é a circulação, que está restrita, nós vendemos aí, em torno 60% a 70% para o mercado nacional e os frigoríficos estão bem desacelerados”, ressalta.Gilson Ney pondera ainda que os frigoríficos já trabalham abaixo da capacidade no Tocantins. “Nós já trabalhávamos com uma ociosidade em torno de 56%; hoje já temos dois frigoríficos no Estado que estão parados, devido a falta de mercado, devido a dificuldade de compra de matéria prima, que é o boi gordo. Nós abatemos bem menos que nossa capacidade instalada; já vínhamos ofertando bem menos vagas que a capacidade do setor; a oferta de boi gordo no Tocantins é bem menor que a necessidade de abate e a capacidade instalada que existe. Então isso é um conjunto que fez com que a categoria tivesse uma retração muito forte”, explica, destacando que mesmo com a crise, o setor tem mantido os empregos.Segundo o presidente, além dos dois frigoríficos fechados, os que estão de portas abertas, ou estão trabalhando para honrar os contratos ou adequando suas instalações para começar a exportar. “Todos os frigoríficos que estão trabalhando adotaram as medidas de assepsia e trabalham com todas as precauções necessárias para que não haja contágio nenhum entre os funcionários. Inclusive essa vacina de gripe, apesar de não proteger contra a Covid-19, os frigoríficos estão se movimentando para comprar e imunizar seus funcionários”, complementa.Sem compradorA realidade atual, segundo o Sindicarnes é que no momento não há quem compre carne. “O problema maior agora é que não está tendo quem compra carne que é um produto perecível, tem prazo de validade e é curto. Esperamos passar essa tempestade para ver como vai ser depois, mas ainda estamos muito otimistas com relação ao mercado internacional que deve voltar a comprar. Todas as previsões com relação à exportação são muito boas, apesar que não são todas as plantas do Tocantins que exportam para o mercado internacional, mas estamos muito otimistas com relação ao final dessa pandemia, de voltarmos ao equilíbrio e a harmonia dentro da categoria”, acredita.Carne mais barata?A desaceleração nas exportações, no entanto, não resultará em carne mais barata nos açougues. “O custo da arroba do boi não baixou, permanece a mesma coisa. A carne vai chegar ao consumidor mais barata se baixar o custo da arroba do boi, ou então se baixar o custo da indústria transformadora que é a carga tributária. Eu não vislumbro possibilidade dessa carne baixar por enquanto, até porque não é uma oferta acima da procura. Os frigoríficos diminuíram o abate, deram férias coletivas, muitos estão parados dando manutenção, fazendo alguma reforma, mas não foi baixado o custo operacional. As diminuições de remessa para o mercado internacional não vão refletir nesse caso no preço da carne no mercado interno”, conclui.