Enquanto os preços de muitos produtos caem com a proximidade da Black Friday, o valor da carne bovina só aumenta a cada dia em todo o País. O aumento que já vem ocorrendo há um mês tem sido mais significativo nos últimos dias com a habilitação de novos frigoríficos para exportação de gado para a China, medida do governo federal que impactou desde as indústrias frigoríficas até a mesa dos consumidores brasileiros e tocantinenses que veem cada vez menos a carne de gado como prato principal e precisam mudar as opções no dia-a-dia. Confira abaixo pesquisa de preço do Procon Tocantins realizada em 19 e 20 de novembro.Para o dono de um açougue da região norte, Francisco Severino, de 50 anos, o aumento no preço dos bovinos em nível nacional tem impactado seu estabelecimento nos últimos 30 dias com variação de 25 a 30% nos valores praticados. “De uns três meses para cá vem tendo acréscimo, mas nos últimos 30 dias é mais considerável. Quando o consumidor vem comprar, se tiver com o preço mais alto ele costuma migrar para outro produto, frango, peixe, suínos, que ainda está com preço mantido”, destaca. Nesta casa, o preço do contrafilé, por exemplo, está a R$ 33,90.O empresário Afrânio Machado, de 53 anos, compra carne praticamente todos os dias tanto para consumo da sua família quanto para levar à sua propriedade rural e sentiu um impacto maior no bolso nos últimos 10 dias. “Todo mundo tem percebido esse aumento, é o alimento principal na casa dos brasileiros e a tendência é subir mais ainda. Por causa do aumento, a gente tem que migrar o corte, no fim de semana fiz um churrasco e comprava picanha antes de R$ 27, hoje está R$ 43, então não tem como, comenta.Já o pintor Reinaldo Rocha Lopes, de 40 anos, veio de Uberlândia para trabalhar por um período na Capital em uma obra. Para aproveitar o pouco tempo que tem, ele costuma comer todos os dias em restaurante e afirmou que os preços lá também têm subido bastante. “De ontem para hoje já aumentou também, acabo tendo que mudar a opção, coloco ovo, bolinho de arroz para sair um preço melhor”, explica. Nesta quarta-feira, 27, o pintor resolveu comprar uma carne para fazer comida em casa e se assustou com o valor. “Antes eu comprava fraldinha, picanha, hoje tive que optar pela linguiça e costela por causa dos valores”, frisa.Os restaurantes também precisaram repassar para o consumidor o aumento no preço dos bovinos. O gerente de um estabelecimento que vende entre 50 e 70 quilos de carne todos os dias, Erivaldo Pinheiro, 57 anos, explicou que os valores subiram muito e os cardápios precisam ser revistos. “Vendemos muita carne no espeto e precisamos mudar os preços para conseguir fechar as contas e ter um lucro. Principalmente os cortes de carne de primeira que tiveram o maior aumento e é justamente o tipo que os restaurantes costumam vender porque é o melhor”, afirma.Em outra casa de carne da região sul, os preços estão parecidos, com o quilo do contrafilé a R$ 36,49, por exemplo. Para o dono, João Pires, 29 anos, a variação tem sido em torno de 25% de aumento. “Nós já estávamos sentindo o aumento por causa do período de seca e escassez do gado, agora com a exportação para China, Rússia, se agravou mais. O Brasil é o maior exportador de carne e nos coube abastecer os comércios externos”, explica.Pires disse que prioriza comprar gado de frigoríficos ao redor do Estado, mas também foi preciso buscar gado em outros estados, deixando o preço mais caro e refletindo no varejo. “Quando a gente encontra o animal, essa semana eu consegui trazer gado para o estabelecimento todos os dias, mas na semana passada fiquei dois dias sem conseguir entregar. Isso tudo reflete nessa variação”, considera.SindicarnesDe acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes Bovinas, Suínas, Aves, Peixes e derivados (Sindicarnes), Gilson Ney Bueno Cabral, essa especulação do preço dos bovinos é nacional e o Tocantins não poderia fugir à regra. “Nosso rebanho é muito pouco, já estava faltando matéria-prima e agora com a habilitação de mais frigoríficos para exportar para a China, a demanda aumenta, mas é uma fase que deve passar”, explica.Segundo ele, os analisas entendem que o preço não deve baixar, mas os aumentos também não devem ser contínuos. “É uma fase de adaptação do mercado, então deve se manter daqui a uns dias. Esses aumentos diários é porque foram abertos novos mercados para Europa e Ásia e mais frigoríficos habilitados para exportação no ano que vem, então as empresas já começam a assinar contrato. Mas o mercado sinaliza que vai chegar a um patamar e parar de aumentar”, destaca.Conforme o Sindicarnes, as indústrias frigoríficas no Tocantins já estão trabalhando com ociosidade de matéria-prima há um bom tempo e isso também é um agravante para a variação dos preços. “Nós enquanto indústria estamos com problema na compra do gado e esse aumento automaticamente é repassado para o varejo e aumenta os preços”, completa.-Imagem (1.1941335)-Imagem (1.1941321)