Sob o sol escaldante da manhã de ontem, as equipes da etnia Xerente se classificaram para as finais dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas nas quais enfrentarão equipes estrangeiras. O time feminino encara as indígenas canadenses, enquanto o masculino mede forças contra os bolivianos hoje à noite, no Estádio Nilton Santos.
“Agora vamos representar não só o povo do Tocantins, mas a gente vai estar representando o Brasil”, contou Edson Kanõkrá, responsável por um dos quatro gols que levaram os tocantinenses para a final dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Os Xerente, que jogaram contra os também tocantinenses Karajá, dominaram o jogo e venceram por 4 x 0.
Batalha ganha, Kanõkrá juntou os companheiros de time para subir na arquibancada e assistir ao jogo que definiria o adversário da final. “Agora nosso objetivo é ser campeão, mostrar que nossos atletas estão preparados para isso. A satisfação é muito grande, entre quarenta equipes, chegar nessa final. Eu creio que estamos fazendo um bom trabalho”, declarou.
E o que os tocantinense viram das arquibancadas não foi um jogo fácil. Paraguaios e bolivianos disputaram cada lance em um jogo equilibrado e agressivo, com direito a torcida intensa, dois cartões amarelos e muito empurra-empurra. A decisão chegou só no finalzinho do segundo tempo. Quando todos já esperavam pela cobrança dos pênaltis, um jogador boliviano foi derrubado dentro da área e o juiz marcou pênalti, que os bolivianos não desperdiçaram, garantindo o 1 x 0.
“Estou muito contente com o resultado, com o grupo. Agora é se concentrar 100% para levar a vitória”, afirma emocionado Roly Hurtrado, autor do gol da vitória. Com lágrimas nos olhos, os jogadores bolivianos, ao final da partida, se concentraram no centro do campo, como já virou tradição das equipes no futebol para fazer o agradecimento e orações.


Feminino
Com muitos gols, as equipes da etnia tocantinense Xerente e do Canadá se classificaram para a final do futebol feminino. No jogo da semifinal, na manhã de ontem, as tocantinenses ganharam com dois gols de diferença, depois de virar o jogo no segundo tempo contra a equipe Tapirapé. A partida realizada no campo da Ulbra terminou com o placar de 4 x 1.


Adriana Krtidi, que joga no meio de campo, marcou dois dos quatro gols da partida, inclusive o gol que abriu a vantagem para as tocantinenses. “Fiquei feliz por ter contribuído. Agora é esforçar na final”, disse a indígena, explicando que hoje elas irão treinar no Nilton Santos para se preparar para o jogo à noite. Já o Canadá venceu por 4 x 2 a equipe de Tapirapé. (Talita Melz)

Indígena desabafa, mesmo com time na final

Suado e cansado, Edson Kanõkrá, responsável por um dos quatro gols que levaram os Xerente para a final dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, desabafou: “Viemos com uma preocupação grande, pois não tínhamos estrutura nenhuma para disputar um mundial”, explicou. Sem uniformes, bolas e chuteiras, os indígenas começaram a treinar somente duas semanas ates do torneio em amistosos improvisados. Segundo ele, a Prefeitura de Palmas havia prometido apoio ao time, mas eles acabaram não recebendo esse auxílio. “Cada jogador teve que dar R$ 50 pelo uniforme. Para mim isso é uma vergonha”, declarou.
O uniforme não foi o único problema da etnia. A falta de conforto para o deslocamento da delegação foi outra coisa que incomodou. “Você pode ver nosso ônibus é velho, enquanto os de delegações de outras etnias são os ônibus de luxo”. Segundo ele, nem ar condicionado o ônibus da sua delegação tem. “Praticamente a gente está levando o nome de Palmas, mas não é porque a gente quer não moço, mas porque a sede é aqui. Somos tocantinenses e temos orgulho de estarmos aqui fazendo nosso papel como anfitrião”, desabafou. (Talita Melz )