Engana-se quem pensa que a tecnologia passa longe das aldeias. Em muitas delas, computadores, celulares e tablets fazem parte da rotina dos indígenas mais antenados às novidades do mundo virtual. Prova disso são as centenas de aparelhos eletrônicos vistos na mão dos competidores na vila dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI). Por lá, a internet é fundamental para a comunicação entre eles.
Waysã Pataxó tem 24 anos e está sempre conectada à internet. Pelo celular, ela acessa as redes sociais e se comunica com as pessoas que ficaram em Porto Seguro (BA), onde está localizada a aldeia dela, e também troca informações com outros participantes da competição. “Criaram um grupo para os indígenas e, pelo WhatsApp, a gente troca informações sobre as provas, tira dúvidas e faz novas amizades”, disse a jovem, ressaltando ter conhecido representantes de diversas etnias. “Já conversei com os Bakairi, do Mato Grosso, e os Wai Wai, do Alto Xingu”, exemplifica.
Takuman Kamayurá também é super adepto da tecnologia. Somente nos Jogos, já tirou mais de cem fotos com o celular e compartilha os principais momentos nas redes sociais. De acordo com o jovem do Alto Xingu, a internet ajuda a aproximar as pessoas. Ele revela que já não sabe mais viver longe do celular. “Eu não largo para nada, só quando descarrega”, confessa o competidor, que registrou um dos momentos de descontração na vila em selfie ao lado dos amigos Maripeu e Kuritse Kamayurá.

Oca Digital
Na Oca Digital, espaço montado na vila dos JMPI com computadores e acesso à internet para os indígenas, Joyce Albuquerque Gavião reservou um tempinho para mandar fotos para a família que ficou na aldeia Kyikatêjê, no Pará. A jovem, que diz estar sempre conectada às redes sociais, mas garante que também usa a internet para estudar. “Estou no 3º ano e aproveito para aprender novas coisas”, afirma a estudante de 20 anos. 
Da mesma forma, os pequenos Jomkrowakatre e Pyemnit Gavião aproveitam a Oca Digital para navegar. Para as crianças de oito anos, os jogos online são a grande atração. “Eu gosto muito de brincar no computador”, ressalta Pyemnit. 
Enquanto as crianças de divertem, os pais ficam de olho no conteúdo. Kryt Gavião explica que o filho Jomkrowakatre só usa o computador para pesquisas escolares ou para jogos, no tempo livre. “Nós indígenas temos um pouco de medo da internet, mas temos que encarar. 
Para não ter problemas, tenho bastante cuidado com o conteúdo que o meu filho acessa”, frisa.

Longe da tecnologia
Por mais que a internet esteja presente em boa parte das aldeias, muitos indígenas ainda não têm contato direto com a tecnologia.
Do Pará, Motu Kayapó vive em uma aldeia há cerca de oito horas de Redenção; e por lá, o acesso à rede mundial de computadores ainda não chegou. “Lá não tem nenhum computador; só tem telefone fixo”, diz, explicando que gostaria de acessar mais as redes. “Eu gosto de mandar e-mail para os meus amigos, indígenas de todo o mundo; mas para isso preciso ir para Redenção. Aqui, estou aproveitando para atualizar as conversas”, conta o competidor, que teve o primeiro contato com a tecnologia há apenas dois anos.(Paula Bittencourt)