Em decisão condenatória de uma empresa por discriminação de um trabalhador homossexual, o juiz do Trabalho Marcelo Paes de Menezes, de Minas Gerais, comarca de Muriaé, citou trechos das obras de Gabriel García Márquez, colombiano ganhador do Prémio 24Nobel de Literatura, Guimarães Rosa, Martin Luther King e até o Legião Urbana, grupo musical. 

“Ressalto que o enredo retratado nos autos tem características de falta de acolhimento e, do ponto de vista humanitário, tem o signo da falta de amor ao próximo. ‘É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã’”, disse ao citar música de Legião Urbana, interpretada por Renato Russo. 

Diante da frase homofóbica dita ao autor da ação por em colega, “viado não vai para o céu”, o magistrado disse  o seguinte: “Se não houvesse nenhuma lei no mundo para permitir o enfrentamento da discriminação, o juiz deveria buscar inspiração nas palavras que o grande Guimarães Rosa colocou na boca do jagunço Riobaldo. ‘A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem’”. 

Em outro trecho, citou García Márquez: “Uma família chega à beira de um rio e funda uma aldeia. As casas foram posicionadas de modo que todas pudessem receber a mesma quantidade de luz. A partir de um dado momento, porém, o sonho da igualdade dá ensejo à desesperança e desilusão. A leitura de ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel Garcia Marques, é importante para compreender o enredo retratado nos autos. ‘A vida imita a arte’…”.

E continuou: “É relevante registrar que o sonho da igualdade foi a temática dos inesquecíveis discursos de Martin Luther King: ‘Eu tenho um sonho’”. Estabeleceu, ao final dessa decisão literária, o valor de R$ 50 mil por danos morais à empresa. (Processo 0010306-09.2023.5.03.0068).