Um vídeo registra o comandante de Pelotão da Polícia Militar (PM) de Edéia, sargento Ademir da Guia Amaral, agredindo o advogado Paulo Eduardo Matos Diniz, de 26 anos, na principal avenida da cidade, localizada a cerca de 120 quilômetros de Goiânia. A vítima registrou o caso na manhã desta segunda-feira (3) na Polícia Civil e disse que a violência foi praticada por volta das 21h30 de ontem, enquanto um grupo de cinco militares fardados queria dispersar as pessoas após o resultado das eleições.

O advogado diz que estava na Avenida Brasília e viu muita gente comemorando o resultado das eleições. Depois, ele também viu os policiais mandarem o grupo parar o barulho de um carro de som, o que, segundo Diniz, foi atendido imediatamente. “Em seguida, eles jogaram spray de pimenta e deram cassetadas nas pessoas que estavam na principal avenida da cidade”, relata. Segundo ele, muitas pessoas vaiaram o “toque de recolher” dos policiais.

Acompanhado de outros quatro militares, o sargento seguiu em direção ao advogado e partiu para a agressão logo após a vítima se apresentar como advogado, como mostra trechos gravados no vídeo:

- Não precisa disso. Nós estamos filmando isso aqui. Eu sou advogado. Não precisa de fazer isso, diz o advogado.

- Toma vergonha na sua cara, grita o policial.

- O senhor jogou...

- Então vai embora. Vai embora daqui. Representa contra a Polícia Militar, rebate o PM com a voz exaltada.

- Eu sou advogado.

- Se vira com a tua, advogado.

- O senhor jogou spray de pimenta na minha cara.

- Joguei e jogo de novo. Não jogo porque acabou. Vaza. Representa. Representa agora. Representa agora, advogado.

Antes de terminar as últimas palavras, como mostra o vídeo, o policial já começou a desferir socos no advogado, que não reagiu. Fotos mostram os sinais da agressão no corpo de Diniz. “Até agora estou sem conseguir ouvir direito e várias lesões. Enquanto ele me batia, gritava repetidamente ‘representa agora’”, conta Diniz, que estava acompanhado do irmão dele, Carlos Vitor Matos Diniz, de 24.

O advogado diz que nunca imaginou que seria vítima de violência policial. “Hoje aconteceu uma coisa lamentável comigo que nunca imaginei que aconteceria. É muito constrangimento. A cidade é pequena, fui humilhado e espancado em público situação”, lamenta ele.

Nota de Repúdio

Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO) repudiou a atitude dos policiais militares. Segundo o texto, as agressões evidenciam o despreparo daquele grupo de policiais que, em vez de exercer a obrigação constitucional de proteger ao cidadão, agiu contra cidadãos de bem com “truculência criminosa”. Para a instituição, os delitos comprovados no vídeo devem ser prontamente apurados, com o imediato afastamento dos agressores, de modo a evitar que outros cidadão goianos sejam agredidos por esses policiais. 

Em sua manifestação, a OAB-GO informou ainda que tomará todas as medidas necessárias para a apuração detalhada do caso e que não se calará enquanto todos os procedimentos criminais, disciplinares e cíveis não resultarem na punição dos servidores públicos, que, segundo a nota, “impõem a violência e medo a quem deveria proteger”.

Outro Lado

Comandante da Quinta Companhia Independente da PM, que também é responsável por Edeia, o major da PM Alexandre dos Santos e Silva disse que já instaurou sindicância para apurar o desvio de conduta do sargento Amaral e dos outros quatro policiais que aparecem no vídeo. “Vamos apurar se também havia outros policiais” por trás dessa operação e que não apareceram no vídeo”, ressaltou. Segundo ele, não havia nenhuma determinação para retirar as pessoas das ruas. “Não tinha ordem do comando nesse sentido”, afirmou.

Segundo o assessor de imprensa da PM, tenente-coronel Ricardo Mendes, o comportamento dos policiais não integra as recomendações do procedimento operacional padrão da polícia.