Palavra composta e formada por oito letras, que tem um empreendimento comercial em seu significado literal, mas que se tornou a senha no País para se falar, hoje, de atos de corrupção. Acertou se você pensou em Lava Jato. Para o procurador da República no Paraná Roberson Pozzobon, um dos membros da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) nas investigações, a perspectiva atual é que se trata do maior escândalo de corrupção “endêmico e sistemático que o País já viu”, por envolver não só a elevada classe política, mas também o núcleo econômico.

Pozzobon conversou ontem com a reportagem do Jornal do Tocantins antes de sua palestra no Fórum Protestante, realizado em Palmas, evento que abordou a corrupção e suas diversas vertentes.

Para ele, a Lava Jato é um caso que revela o “tão danoso pode ser a corrupção”, com reflexos na economia do País e na população. “É um modelo empresarial corrupto, que coloca a corrupção como um dos seus insumos e promove a ineficiência econômica, fraudes e acaba sonegando uma grande quantidade de recursos que deveriam ser aplicados em áreas importantes”, disse.

Tocantins

Pozzobon não quis adiantar qualquer informação quando perguntado se a Lava Jato reserva novas surpresas do mesmo peso da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), cumprida pela Polícia Federal na última quarta-feira. O argumento para a discrição é que é necessário resguardar a integridade e o sigilo das investigações.

A postura do procurador foi a mesma com a pergunta que não se cala: a operação pode, de alguma forma, sair do eixo atual e chegar ao Tocantins? “O que posso dizer que não só por parte do Ministério Público, mas também das demais instituições, há o compromisso com a justiça que vai se aplicar a todos, que não vai distinguir classe econômica e política”, declara o procurador.

Ao falar das apurações ainda em curso, ele diz com a firmeza de quem integra a força-tarefa, mas quase em tom desabafo: “A gente fica perplexo”.

Sociedade

Para ele, a sociedade brasileira tem visto, na Lava Jato e em seus desdobramentos, pessoas e executivos serem levadas a julgamento. “A população vê isso como mensagem de esperança e de que esse ambiente de corrupção, embora sistemático, pode ser revertido”.

Efeito Delcídio

A prisão de Delcídio elevou a Lava Jato a um novo status, criando um pânico - ainda que silencioso - em muitos membros da classe política.

O próprio governo Dilma, temendo o que Delcídio possa vir a falar em depoimento, optou por evitar o enfrentamento com o petista, sem julgá-lo ou isolá-lo, com a finalidade de minimizar os efeitos da nova fase da operação no Planalto. Até porque, outras fases virão e ninguém, fora a força-tarefa, pode prever quando e sob qual foco irá acontecer.

Campanha do MPF

Pozzobon defendeu a participação popular na campanha do MPF 10 Medidas Contra a Corrupção dizendo se tratar de uma iniciativa na qual mostra “a população tomando as rédeas do seu destino".