Quanta baixa estima e desesperança cabe ao brasileiro neste momento. É o fim de todo e qualquer romantismo atribuído à política como meio de promoção de uma vida melhor para o povo. A austeridade proposta pelo governo Temer desnuda os interesses de sua aliança com o sistema financeiro. Assistimos, vez por vez, a tentativa de anulação dos nossos direitos e a cassação da nossa dignidade através de mecanismo travestidos de reformas. Por falar nelas, a Previdência é a bola da vez e a redação da PEC 287, que estabelece adequações severas na concessão de pensões e aposentadorias, é aquela catástrofe anunciada que nem acreditamos, mas que pode nos vitimar a qualquer momento.

De acordo com o engodo propagado pelos que defendem a onda de austeridade [austeridade somente sobre o trabalhador e os extratos mais humildes da sociedade] instalada nas políticas do país, a PEC traz medidas necessárias para evitar um colapso financeiro na estrutura da Seguridade Social. Porém segundo a realidade atestada por instituições sérias, trata-se de normas que perpetuam uma política equivocada e ineficiente para a população. De novidade esse contexto não tem nada; as massas populacionais têm cada vez menos qualidade de vida, enquanto está garantido bonança aos magnatas.

Não que não tenha outro jeito, é que o governo não quer peitar banqueiros, investidores nacionais, internacionais e rentistas que levam rios de dinheiro do orçamento da União com o pagamento da dívida pública. Segundo a Auditoria Cidadão da Dívida, instituto que estuda o endividamento público do Brasil, só em 2015, juros e amortizações, totalizaram R$ 962 bilhões, o que representa 42,43% do orçamento da União.

Dava para aliviar o jugo sobre as costas do trabalhador, mas para que isso aconteça são necessárias atitudes firmes, como acabar com as regalias recebidas por altos escalões. Faz-se necessário, principalmente, que antes de se pensar em reformar a previdência, reformem a consciência daqueles que compactuam com essa lógica infundada - em que a maioria dos brasileiros sobrevive, enquanto poucos desfrutam de privilégios. É preciso reformar o senso dos nossos políticos, é preciso aniquilar o descaramento dos corruptos.

Essa conta não é nossa. Aliás em se tratando de Previdência, nem há conta alguma a pagar. É também a Auditoria Cidadã da Dívida, que vem provando que não há déficit no orçamento real da Seguridade Social. Tanto que a Desvinculação de Receitas da União, DRU, permite atualmente retirar 30% do Orçamento da Seguridade Social para outros fins. Só em 2014, quando o índice estava limitado a 20%, a DRU retirou R$ 63,2 bilhões, permitindo que esse dinheiro originalmente recolhido para a Previdência, a Saúde e a Assistência Social fosse usado para despesas como propaganda e fundos partidário. Como é possível tirar tanto dinheiro de um caixa deficitário ?

Nem é preciso mencionar que é inadmissível trabalhar até 65 anos, cumprindo 49 anos de contribuição, que é injustificável obrigar uma viúva a escolher entre receber pensão ou sua aposentadoria, ou que são revoltantes as regras que restringem o direito a recebimento integral de aposentadorias e pensões.

No entanto magoa mais ainda, entender, por fim, que muitos figurões da política tiraram suas máscaras e estão dizendo ao povo “Meu compromisso é com o sistema financeiro e não com a sua qualidade de vida”.