Padre Eduardo Zanom
O evento carnavalesco de Palmas tem tomado conta da mídia e do judiciário nas últimas semanas. Apesar de pesquisas comprovarem que a grande maioria do povo palmense aprovou o evento, alguns insistem em afirmar que a ocasião serve para interesses particulares.
Diante de tanta argumentação de quem é contra ou a favor, surge uma dúvida: a fé deve ser considerada algo privado ou um fator cultural? Na busca de uma resposta, tive que considerar o fator histórico do nosso povo. Sociologicamente, é impossível dizer que o palmense não é um homem de fé. Quantos de nós deixamos nossas realidades familiares para nos aventurarmos em uma capital que estava iniciando, deixamos vínculos afetivos, empregatícios e tudo por quê? Porque tínhamos fé em um futuro melhor. Tivemos fé em Deus, fé na nova oportunidade, fé na cidade de Palmas que nos acolheria, fé no desenvolvimento pessoal, fé na prosperidade. Palmas se tornou para muitos a terra prometida que haveria de ser alcançada através da libertação da vida antiga para a experiência nesta então nova cidade. De fato, o início de Palmas, poeira e habitação, lembrou muito o deserto pelo qual passou o povo da aliança.
Sendo assim, a fé, o ato de crer, deixou de ser um fato isolado ou particular de um grupo de cidadãos para fazer parte da coletividade palmense.
Além de notarmos o desenvolvimento da fé de um povo juntamente com a sociedade de Palmas, temos exemplos nacionais relacionando fé e cultura. A presidente Dilma Rousseff sancionou em 9 de janeiro de 2012 a alteração da Lei n. 8.313 de 23 de dezembro de 1991 (Lei Rouanet) em seu artigo 31-A, reconhecendo a música gospel e os eventos a ela relacionados como manifestação cultural. Prova disso é que muitos cantores religiosos estão cadastrados no Ministério do Turismo em consonância com a Lei Rouanet (lei de incentivo à cultura) para que verba pública seja utilizada para custear e incentivar suas apresentações.
Legalmente, podemos dizer que a expressão artística de uma fé é sim patrimônio cultural. Seria difícil pensar o contrário num país que já se chamou Terra de Santa Cruz. A fé que faz parte da vida do povo brasileiro, batalhador, sonhador, essa fé deixou de ser um fator privado para se tornar um fator social. Nossa história local comprova, leis nacionais também comprovam, somos um povo de fé e ela faz parte da nossa cultura. Eu nunca entrei com nenhum processo judicial por não aprovar algum gênero musical cultural. Isso porque ao longo do meu desenvolvimento educacional aprendi a apreciar a diversidade e respeitar os gostos diversos. Enquanto muitos se preocupam com uma fé que pode nos dividir doutrinalmente (entre católicos, evangélicos e outras denominações) o carnaval em Palmas tem demonstrado ao longo dos anos que a cultura da fé superou a doutrinação, faz parte de uma política pública que visa o desenvolvimento integral do palmense (cultural, econômico, turístico) e ainda diminui a violência, acidentes e gravidez precoce. Com ou sem o carnaval, a cultura religiosa já foi instaurada entre nós e Palmas será sempre a Capital da Fé!
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