Nunca antes na história deste país o governo enviou para o Congresso, como agora, um orçamento em que a despesa é maior que a receita. Para tapar o buraco, a presidente resolveu ressuscitar a CPMF, dando-lhe outro nome, para cobrar 85 bilhões de reais no ano que vem, de quem trabalha e produz. Contava com o apoio de governadores e prefeitos, com quem prometia dividir o botim. Não colou. Enquanto seu ministro-do-ajuste defendia o novo imposto em Campos de Jordão, comparando o Brasil e a Grécia, a presidente abortava sua própria cria e deixava o ministro no pincel. Nesse ínterim, ela conseguia incluir mais vento na tempestade perfeita que criou ao longo desses quatro anos e meio. Opositores chegam a dizer que ela não teria sequer capacidade para se enrolar tanto. Que teria sido obra do acaso, tanto que ela própria já havia declarado que não percebera a tempestade.

E não é só a União que está assim. Os estados também. O rico Rio Grande do Sul está com as contas públicas falidas. O novo governo recebeu os cofres arrasados. O mesmo acontece com o Distrito Federal, que abriga da capital da República, e que recebe um fundo da União para ajudar a sustentar a estrutura burocrática e diplomática federal. O único estado que está bem é São Paulo. O governo federal não consegue nem superávit primário para pagar os juros da dívida. Meu colega Geneton Moraes Neto conta que Fernando Collor relatou a ele que, quando presidente, propôs à chefe do governo britânico Margareth Thatcher, que houvesse perdão de 30% da dívida do Brasil. Thatcher replicou: “Você deve 100 e quer pagar 70? Pois não conte comigo nem com o governo britânico. Podemos discutir como você vai pagar 100, mas vai pagar o que deve.”

Pois o governo brasileiro, com todo o aperto que põe no contribuinte que trabalha cerca de cinco meses por ano só para pagar tributos, ainda perdoou dívidas de ditadores. É a mania de fazer caridade com dinheiro alheio. E a pior caridade é aquela que acostuma o beneficiário a não trabalhar, não produzir e viver de esmola. É a pior, mas muito conveniente para reeleger até quem afunda o país em crise que desvaloriza salários, fecha empregos, estimula endividamento e depois faz os juros subirem. A tempestade perfeita é quase democrática. Seria totalmente democrática se pegasse também os que vivem de aplaudir o governo em solenidades, manifestações, passeatas e “marchas”. O dinheiro, mais uma vez, vem de quem produz e trabalha. Só que a galinha dos ovos de ouro já está esgotada e se percebe que gastar demais sem que isso estimule o trabalho cria um circulo vicioso que esgota a riqueza a distribuir.

A fórmula fracassa onde quer que seja aplicada. Estado não cria riqueza. Quem cria riqueza é quem produz e trabalha. Estado tem que criar condições para que quem trabalha tenha segurança jurídica e não medo de invasões urbanas e rurais; tenha segurança física e direito de ir e vir; possa criar empregos para gente que tenha recebido instrução suficiente o cobertura de saúde para ter produtividade; tenha carga fiscal e burocracia que seja um alívio, não um ônus para produzir e vender. E que tenha a consciência de que os agentes do estado não estão se locupletando e sustentando seus bandos com pixulecos, como nunca antes na história deste País.