Neste ano de múltiplas eleições no Estado do Tocantins, a proximidade das eleições da OAB movimenta mais de 4 mil profissionais inscritos na Seccional. Desde o ano passado, situação e oposição já mobilizam os veículos de comunicação, o que sinaliza a potência da disputa. A participação das advogadas nos cargos decisórios é uma pauta recorrente no roteiro eleitoral, pelo menos a partir da última disputa e ainda que apareça timidamente nos artigos de opinião.

O momento nacional coloca a OAB Tocantins numa quadra singular da história em permanente construção. Numa época de redução da presença feminina no primeiro escalão do Governo Federal, a gestão estadual da advocacia tocantinense possui 60% de mulheres, contadas as comissões temáticas, órgãos de assessoramento da presidência; e 57% no Conselho Estadual. Os índices inéditos estão acima do percentual de inscritas ativas, que é de 42,67%.

As advogadas parecem ter cada vez mais convicção de que ocupar espaços na política institucional é fundamental para fazer valer suas experiências e dar sentido a suas necessidades e interesses. O percurso natural é que mais advogadas encabecem as chapas para as presidências, na capital e no interior.

Mas, como a decisão de se lançar à disputa pela presidência é pessoal, é preciso refletir a respeito do que é ocupar cargos de decisão e para que serve essa ocupação.

Seguir o caminho habitual das discussões que giram em torno do poder nos conduz à disputa das presidências, o que não é pouco. Porém, isso oferece uma visão estreita do que é poder, correlacionando os rumos decisórios da instituição unicamente à sua diretoria, o que projeta a pioneira feminina como a já bem-sucedida supermulher, diferenciada das demais.

Porém, este modelo não funciona para todas as advogadas, visto que muitas de nós, mesmo não pretendendo assumir a presidência da Ordem, aspiramos uma posição de poder que nos permita intervir efetivamente nos rumos da política classista. Só que para fazer valer essa autoridade feminina é preciso decodificar a estrutura masculina da advocacia.

A experiência cotidiana mostra que não importa a posição que a mulher ocupe, caso ela se aventure pelo tradicional território masculino, sua voz será devorada, como numa espécie de canibalismo narrativo. Que o diga a presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia, que afirmou quase não serem interrompidas, ela e a ministra Rosa Weber, uma vez que quase não têm a palavra.

O que tenho em mente implica pensar no poder de outra maneira, de forma colaborativa, pensar no poder das seguidoras, não apenas das líderes.

Ambiciono por possibilidades de ampliação de condições de participação em igualdade de ‘autoridade’, para que as advogadas falem e sejam ouvidas não apenas nos cargos de poder institucionais. É o direito de sermos levadas a sério, tanto juntas quanto individualmente, contestando não apenas postos na hierarquia, mas a própria estrutura patriarcal vigente historicamente nas hostes da advocacia.