Anuncia-se para esta quarta um protesto na Praça dos Girassóis contra a retirada de funções de confiança de delegados. Sem qualquer demonstração fática ou técnica de interferência em inquéritos que enfrentasse os argumentos econômicos e orçamentários do governo.

Tem-se aí, certo modo, uma das regras de valores dos dias atuais. No que manifestantes enxergariam usurpação de poder (o moto-contínuo do ato público), o Executivo veria, com a carta constitucional em mãos, exercício de poder legítimo e legal.

Pode até, depois das demissões, dar demonstrações de que agira ideológica e fisiologicamente para proteger os seus, justificando a resistência. Mas até agora nada, pragmaticamente, indicaria o contrário.

Sem direito a atrair o mesmo interesse público, entretanto, passam ao largo das preocupações da sociedade, questões tão mais graves quanto comprovadamente transparentes e efetivas, capazes, com maior probabilidade de êxito, de afundar o Estado. E, por certo, mais merecedoras de manifestações públicas que o exercício regular de competências.

Uma delas é certamente o fundo dos aposentados do Estado (Igeprev). Relatório de 2017 (publicado pela Secretaria do Tesouro Nacional na semana passada) aponta que o governo do Tocantins foi obrigado a fazer aportes de R$ 214 milhões no fundo dos aposentados no ano passado.

Isto se dá porque o governo (pela lei) é o responsável pelo Igeprev. Como aposentados e pensionistas não podem ficar sem receber, o governo aporta recursos lá. Retira o dinheiro de um lado para cobrir de outro.

O valor que retirou do seu orçamento (R$ 214 milhões) e mandou para o Igeprev equivaleria a 50,3% de todos os investimentos (R$ 425 milhões) do governo no mesmo 2017. Retirou de você, para mandar para aposentados e pensionistas.

A situação pode piorar: até o segundo quadrimestre (relatório do 2º quadrimestre/2018 do governo publicado no DO), esse déficit do Igeprev alcançava R$ 496,6 milhões. Isto mesmo!!! Uma diferença de meio bilhão de reais já este ano entre receitas e despesas no fundo dos aposentados que tem uma folha mensal de R$ 80 milhões, cerca de quatro vezes maior que de três anos atrás.

Seguindo o fluxo de crescimento: de 2005 a 2017 (dados da FGV), por exemplo, a despesa previdenciária do governo com o Igeprev cresceu escandalosos 289% (218% reais).

De forma que há problemas que requereriam maior interesse da população e dos próprios servidores, que a luta ideológica que se deduz estar em curso. Isto porque se o Estado falir (por enquanto tem apenas problemas de liquidez) haverá uma questão mais pragmática que programática, em disputa.

Na falta de um ajuste fiscal no Igeprev, assim, ajudaria um controle, por menor que fosse, das despesas com pessoal que o governo diz, com a medida, impulsionadora da manifestação pública desta quarta, querer enfrentar. É esperar para ver se alguma luz se acende nessa aridez de propósitos.