A porta dos fundos da história é por onde saem aqueles que não podem olhar a alvorada que a roda da vida sempre nos traz. Todo dia é dia de nascer e morrer, é fato, ainda assim, há tempos que alguns se tornaram esqueletos na narrativa inexorável da vida. Mas ainda não partiram do meio de nós. Zanzam por ai, como quem de soslaio nos espanta a cada ocaso que faz deitar o sol.

À porta dos fundos da história está agora um emblema de nossa tocantinense história. Homem tolo, talvez. Imaginou-se tão imortalizado nos anais que contam o rosário de nossa lida que com mão de ferro tentou ditar os rumos de um povo. Deu em fim, na velhice. A velhice, dizem os sábios, é lugar de prudência e sabedoria. Para alguns, não.

Ah, a porta dos fundos da história! Lugar sombrio e sem brilhos. Sem glórias, olvidado. Para esse lugar caminha agora um dos homens que mais tentou ser grande, tão grande que seu nome deveria ser motivo de deferência. Mas a história é matreira. Nem os maiorais mandam em seu curso. O algoz também passa, como agora, sem que ninguém dê por ele. Mas não era tão querido?

Eis a porta dos fundos da história, nela jaz um caminhante que tentou sair, não como agora, roto, avacalhado, escamoteado. Esse caminhante quando deu seu último passo de sua história se apresentou ao povo, na ocasião, como um ente querido. Se querido pelo povo, urdiram os marqueteiros, será aclamado e, portanto sairá dessa longa caminhada pelos braços do povo. Era o estado do herói, homem da criação, para enfim ser o herói do estado, o seu mártir.

Nessa porta, a dos fundos da história, agora capota um emblema que se queria lenda. Deixa na história um governo de opróbrio, de jeito nefasto e canhestro. No dia da posse, terá um ser, que fora posto para terminar o mandato, também tão esquálido que a sensação geral será de alívio. Ufa, parece que podemos voltar a sonhar. Mas se foram quatro anos, é preciso pressa. Diante de tanto desleixo, só mesmo com uma boa dose de otimismo para que o próximo governo consiga ao menos fazer o mínimo.

A porta dos fundos da história é um bom lugar para uma longa meditação. Não é possível ser dono da história, não é possível determinar os acontecimentos. Os rumos de um povo pode até ser atrasado, em algum tempo, mas há esperança como agora que pode nos dá mais ânimo para correr dia e noite e recuperar o tempo perdido. Esse governo que ai entra, mais uma vez, pela porta da frente na história tocantinense pode, se quiser, não sucumbir à tentação de ser eterno. Se assim o for, sairá, como entra agora, pelas portas da frente.

No dia da posse será um dia de passagem, um daqueles dias que a história se desenha aos olhos de todos. Sai um governo que ao fim e ao cabo tirou à força pelo viés judicial o governo que agora entra. O que sai pela porta dos fundos além de atribuir a si o protagonismo da criação do estado, dizia ser o que melhor sabia governar. Deixa um rastro de destruição, tanto moral quanto material. O que entra, saiu acusado de tudo, foi expulso da política e, como um acaso da vida, volta justamente para selar para o esquecimento tão malsucedido governo do criador do estado.

Adriano Castorino é professor, técnico em Assuntos Educacionais e Doutor em Ciências Sociais/Antropologia
E-mail: adrianocastorino@uft.edu.br