República, originada do latim res publica - coisa do povo, é uma forma de governo, adotada em vários países, inclusive, o Brasil. Assim, muito embora, o poder emane do povo, o governo não tem de ser necessariamente exercido pelo “povo”, seja qual for o órgão que governe, apenas terá de ser para o “povo”.

Morfologicamente, a palavra república é um substantivo feminino singular, assim, certamente, diríamos dela: atraente, sedutora e despudorada. Com origens que remontam o tempo, esta forma de governo, tem ares misteriosos: A República é seduzida pelos homens que a compõem ou os seduz?

Na clássica obra de Marco Tulio Cicero, Da República, numa diatribe acalorada no senado romano: “-Que é mais admirável que esse governo, quando o que manda não é escravo de paixão alguma e dá o exemplo de tudo o que ensina e preconiza, não impondo ao vulgo, leis que é o primeiro a não respeitar, mas oferecendo como lei viva, a própria existência a seus compatriotas?”.

Num artigo de autoria de Fernando Catroga e Pedro Tavares de Almeida, já em tempos modernos, a República: “-... não pode ser estranha nem à emergência e a manipulação da opinião pública, nem o aparecimento de sociabilidades criadas para fomentar e sustentar concorrencialmente as candidaturas (comitês eleitorais, clubes, partidos políticos), nem os atos eleitorais em si mesmo e as respectivas publicitações, nem as denúncias da sua frequente corrupção clientelar.”

Do discurso a prática, a República tem sido fonte de disputas insolentes, desrespeitosas, prepotentes e absurdas. Um verdadeiro “vale tudo”, para estar Nela, estar com Ela, mandar Nela, desfrutar dos prazeres oferecidos por Ela.

Tamanha sedução se estende ao serviço público, que, constitucionalmente, deve ser ocupado por cidadãos aprovados em “concurso público”. Porque razão a contratação para cargos de confiança, se todos os servidores públicos gozam da presunção da moralidade e do compromisso com o serviço público? Devem ser eles da confiança da República ou do republicano? Porque obras públicas podem ser contratadas sem licitação e, quando licitadas, acabam na mão de alguns afilhados?

As ações republicanas tem “um que” de falta de pudor: - merenda escolar compra de medicamentos, reformas na estrutura física de presídios, hospitais, postos de saúde e escolas, transporte coletivo, entre, praças, jardins e coleta de lixo. Que República é esta? Uma forma de governo ou uma forma de governar?

Noutras épocas, costumava ouvir, diante de atitudes desvairadas dos jovens a seguinte assertiva: “-essa (e) moça/rapaz não tem mãe”. Certamente, a República não tem mãe, pois se tivesse, já teria recebido esta reprimenda: “não permita que homens e mulheres, sem caráter, sem honra, sem compromisso se aproximem de você. Você nasceu para o povo e para o bem comum”.

Dos mesmos autores acima citados, uma preciosidade: “Saber como se elege, exige conhecer quem se elege”.

Bárbara Cristiane C. C. Monteiro é advogada, juíza Eleitoral(2009-2011), diretora Geral da Faculdade Serra do Carmo.