Os críticos dos movimentos sociais na maioria das vezes ancoram seus argumentos nas velhas bandeiras defendidas, especialmente pelos sindicatos, geralmente aumentos salariais ou reajustes. Neste aspecto, muitos se recusam em perceber que a eclosão destes movimentos na década de 80, período de redemocratização, o salários, os direitos trabalhistas era algo a ser conquistado, mas que agora vivemos outro momento histórico. Aquelas ainda são bandeiras, mas os sindicados atualmente fazem a leitura de que devem dar respostas atuais aos problemas da modernidade e esta percepção incomoda setores conservadores da nossa sociedade, que de todo modo tentam fazer parecer velhas as atuais pautas de luta dos movimentos sociais e assim imprimir-lhes certo descrédito.

Ao tocar nesta questão, queremos refletir a greve da rede estadual de educação, deflagrada pelo sindicado nesta segunda feira-feira (24/03). Um olhar para a pauta de reivindicações dos professores vê-se a centralidade na “melhoria do ensino e respeito ao trabalhador”, a partir da reformulação do PCCR, respeito aos trabalhadores nas unidades escolares, saúde do trabalhador, ou seja, uma pauta qualitativa que chamada atenção para as políticas públicas em educação adotadas pelo Estado. Isto de fato, refuta, os argumentos dos que defendem que o sindicalismo está estagnado nas décadas de 1970 e 1980 e reforça o papel histórico dos movimentos sociais nas transformações vivenciadas pelo Brasil revelando também a sintonia destes movimentos com as necessidades e temas da atualidade.

Nos chama bastante atenção, e a sociedade está vendo isso, que na longa história de mobilizações dos trabalhadores em educação no Tocantins, nesta, singularmente, a questão salarial não se coloca como elemento fundamental na pauta, mas como resultante da tomada de outras medidas e ações políticas pelo governo. Em levantamento da Central Única dos Trabalhadores - CUT, o Tocantins é o quinto estado que melhor remunera seus professores e o terceiro em salário base. De outro lado isto não representa necessariamente uma conquista e que salário não é mais preocupação da categoria, temos que ter claro que os profissionais da educação no Brasil são historicamente mal remunerados em relação a outras profissões que exigem formação em nível superior, nesta estatística o Tocantins apenas se destaca.

Por ser uma greve que não tem reajuste salarial no centro das discussões o movimento se situa como uma oportunidade da abertura de um debate político a cerca da educação no Estado envolvendo dos os setores da sociedade em torno do que as avaliações externas (ENEM-SAEB-PISA) vem insistentemente mostrando, que apesar dos avanças obtidos nos últimos anos como: acesso, universalização e democratização, a qualidade do ensino é agora nossa maior fragilidade, especialmente no Tocantins. Pensando neste aspecto a paralisação dos professores, conduzida a partir deste enfoque qualitativo, pode ter a seu favor o apoio maciço da sociedade, que por sua vez também deve se inquietar com os rumos que toma a educação Tocantinense, fortemente marcada por um viés economicista com prevalência da quantidade sobre a qualidade.

Mauricio Reis Sousa do Nascimento é mestre em Educação, professor da UFT/Arraias-TO, diretor de Assuntos Educacionais/Sintet
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