Nascido no berço de uma família de classe média na cidade de Pombal, localizada no alto do sertão paraibano, fez ele seus primeiros estudos no Liceu Paraibano e no Ginásio Pernambucano.

Em 1939, mudou-se para o Rio de Janeiro e lá se tornou acadêmico de Direito na tradicional Universidade do Brasil, hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ao concluir o curso de Direito, esse paraibano foi convocado para a guerra. Na condição de expedicionário, foi para Europa, onde se encantou com a ambiência intelectual de uma das mais charmosas metrópoles do planeta — Paris.

Com o fim da guerra, retornou ao Brasil com o firme propósito de viver na Cidade Luz. De volta à cidade de Voltaire, foi admitido no curso de pós-graduação em economia da respeitada Universidade de Sorbonne. Concluído o curso, retornou ao seu país com um título que só ele possuía naquele Brasil dos anos de 1940: o de Doutor em Economia. No Brasil, trabalhou, por um breve período, na Fundação Getulio Vargas. Logo, todavia, os ares do mundo voltaram a soprar-lhe. Desta vez, para trabalhar em um país da América Latina.

A convite do respeitado economista argentino Raul Prebish, mudou-se para a capital do Chile — Santiago — a fim de integrar aquela instituição que se tornaria a mais criativa agência de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas — ONU. Falo da Comissão  Econômica para  América Latina — Cepal.

Nos anos de 1950, esse paraibano de Pombal retornou ao Brasil em plena euforia desenvolvimentista do governo do Presidente Juscelino Kubitschek. Respeitado por todos, elaborou um estudo inédito sobre a Economia Brasileira, que serviu de base para o famoso Plano de Metas do governo JK.

A convite de Juscelino, ele se tornou o primeiro comandante da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste — Sudene. E, durante as turbulências do governo do presidente João Goulart, nosso biografado exerceu o cargo até então inexistente na burocracia brasileira: o de Ministro do Planejamento.  Na condição de ministro foi o idealizador do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico Social. Com golpe de 1964, esse paraibano voltou a refugiar-se no porto seguro da Paris que ele tanto amava.

A partir daí, voltou-se completamente para o mundo acadêmico internacional que muito o prestigiava. Mudou-se para os Estados Unidos e lá se tornou pesquisador graduado do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da prestigiada Universidade de Yale. Ainda nos Estados Unidos foi professor da Universidade de Columbia. Ao retornar a Paris, tornou-se professor efetivo, por vinte anos, de Economia do Desenvolvimento e Economia Latino-Americana da Universidade de Sorbonne. 

Nos tempos em que pesquisou na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, escreveu um livro considerado o maior clássico da economia brasileira. Falo de “A Formação Econômica do Brasil”. Com a abertura política, ele retornou ao Brasil para ser nomeado, pelo governo do então Presidente José Sarney, ao cargo de Ministro da Cultura.

No entanto quem é esse personagem? O personagem do qual vos falo é o pensador brasileiro mais respeitado no exterior: Celso Furtado. Aprendi a respeitar Celso Furtado não só na condição de leitor voraz de sua rica produção acadêmica, mais do que isso, aprendi a respeitar o autor de “Formação Econômica do Brasil” convivendo, diariamente, na Universidade de Campinas, com seu filho, como ele, Doutor em Economia pela Sorbonne, André Furtado, este, com muito orgulho, meu orientador do mestrado.

Passados 17 anos do falecimento desse notável brasileiro, presto aqui, neste espaço, minha modesta homenagem. Celso Furtado faz parte de um grupo seleto de pensadores que já não existem mais — o dos “mestres do pensamento”. Na condição de homem tipicamente de Estado, o Brasil deve muito à sua inteligência e à sua absoluta integridade!