Lá se  vão doze anos do passamento do maior jornalista de Goiás e Tocantins. Falo do goiano-tocantinense Walder de Goes e da trajetória  desse notável jornalista , de olhos esverdeados, que transmitia uma certa tristeza no olhar. Walder era uma pessoa bastante seletiva quando se tratava de fazer  uma nova amizade. Ele  era do tipo que observava quem dele se aproximava. No momento em que se sentia seguro com seu interlocutor, um novo Walder desprendia-se e ele tornava-se falante , principalmente, quando o assunto era política nacional e internacional.

Recordo-me do dia em que o encontrei no aeroporto de Brasília. De início, aproximei-me dele e cumprimentei-o. Ele respondeu-me, educadamente,mas com uma certa distância . No momento em que falei de Pedro Afonso e de dois primos dele que eu conheço, um novo Walder mostrou-se, diante de mim, bem mais leve. 

Tempos depois, enviei para ele uma cópia de um livro que tinha acabado de escrever. Muito me interessava passar pelo olhar crítico de alguém que sempre respeitei profissionalmente.

A carreira jornalista desse filho de Pedro Afonso foi, sem dúvida, a mais brilhante de um jornalismo goiano. Ainda jovem, trabalhou no jornal Oeste, mas foi nas Organizações Jaime Câmara que ele despontou em Goiás.                   

Enquanto militou  no  jornalismo goiano, Walder foi ,disparadamente, a figura mais brilhante da imprensa  de Goiás. Dono de um texto impecável, com olhar aguçado para política regional, nacional e, de certo modo, internacional.
Seu texto chamou a atenção de um dos maiores homens de imprensa do país: o grande Alberto Dines, de saudosa memória. Na época,  Dines era o editor geral do jornal do Brasil e Walder, o correspondente do jornal carioca em terras goianas.

“Goiás, quero mais!”, esse foi um grito de euforia  dado por esse talentoso profissional .  Esse grito expressava-lhe o desejo de militar na imprensa nacional.     No Rio, Walder, concorrendo com muitos profissionais experientes, assumiu a editoria do Jornal do Brasil .

Por esse jornal, Walder de Goes fez uma carreira de sucesso em âmbito internacional. Como correspondente internacional ,em Portugal, cobriu a Revolução dos Cravos. Na  Inglaterra, produziu textos inteligentes e ganhou leitores de peso como foi o caso de um dos maiores sociólogos do Brasil: Hélio Jaguaribe.

Mas foi na Argentina que esse filho de Pedro Afonso ganhou notoriedade internacional. Motivo: duas semanas antes, Walder previu o Golpe Militar, que derrubou a presidente Isabelita Peron. Ele acertou. Criou um rebuliço danado na Buenos Aires de Gardel e foi expulso do país.

Já morando em Brasília, ele tornou-se um consultor de peso. Sua empresa sempre era muito solicitada para elaborar complexos cenários políticos de interesse de empresas públicas e privadas. Walder  foi, também, professor na Universidade de Brasília. Escreveu livros de sucesso. Tinha um enorme conhecimento da história dos militares no Brasil. Que o diga os dois livros que ele escreveu sobre o governo Geisel e a biografia de Cordeiro de Farias.
Walder de Goes  faleceu no hospital Santa Helena, ao lado de uma irmã médica, que dele cuidou até morrer. No dia do enterro, poucos jornalistas estiveram por lá. Quem esteve presente foram aqueles que, com ele, trabalharam. A exemplo: os irmãos Hélio e Reinaldo Rocha.

“Pedro Afonso,  há quanto tempo!” Essa foi a resposta de Walder no momento em que eu o abordei . A sonoridade da sua voz deu- me a impressão de que havia induzido ,por uns instantes, lembranças mais profundas, no rio da vida do maior jornalista de todos os tempos de Goiás e de Tocantins. Aqueles olhos esverdeados mantinham viva uma tristeza interior de um homem, que se fez grande pela própria vontade, pelo seu amor ao intelecto. Ele jamais se vergou a político nenhum. A trajetória do jornalista Walder de Goes, neste mundo, foi a de um vencedor que merece ser referenciada. 

Salatiel Soares Correia
é engenheiro, bacharel em administração de empresas, mestre em energia pela Unicamp.é autor de oito livros relacionados aos temas :energia, economia, política e desenvolvimento regional.