A subrocuradora-geral da República Raquel Elias Ferreira Dodge, segundo lugar na lista tríplice de 2017, foi a escolhida para o cargo de procuradora-geral da República (PGR) por Michel Temer. A primeira pergunta após a escolha dela para a cadeira de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República é: o que muda na Lava Jato?

Embora não seja alinhada com o atual procurador, mais do que isso, faz oposição a ele, em entrevista ao Estadão no início da campanha, Raquel afirmou que manterá a equipe do grupo de trabalho da PGR com atuação no Supremo Tribunal Federal – a instância que julga políticos com foro privilegiado.

Nascida em Morrinhos, no interior de Goiás, Raquel era a candidata com mais tempo de atuação no Ministério Público Federal na lista tríplice. Nos 30 anos de MPF, ela atuou principalmente em Brasília. Graduou-se pela Universidade de Brasília (UnB) e é mestre pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde cursou o programa de direitos humanos.

Na entrevista, ela afirmou que pretende ampliar o elenco de procuradores da Lava Jato, defendeu a imunidade para os delatores – desde que proporcional ao alcance da colaboração – e que vai manter a estrutura de assessorias no gabinete. Após passar por sabatina no Senado, Raquel deve assumir o título em setembro. Ela será a primeira mulher a comandar a PGR.

Temer quebrou tradição de 14 anos ao escolhê-la, em vez de optar pelo primeiro colocado Nicolao Dino. Enquanto Nicolao é ligado ao atual PGR, Rodrigo Janot, Raquel tem um perfil bem diferente do antecessor. Dino era visto como uma certeza da continuidade de um modelo de trabalho desenvolvido por Janot, em especial em grandes missões como a Lava Jato, a escolhida de Temer é uma incógnita nesse quesito.

Porém, vale lembrar que, quando assumiu pela primeira vez, em outubro de 2013, na gestão Dilma Rousseff, Janot também não era conhecido e muitos se surpreenderam com sua atuação – para o bem e para o mal.

Esta foi a segunda vez que a procuradora compôs a lista tríplice. A lista é composta com base nos votos de 1.300 procuradores, que escolhem três nomes para sugerir ao Executivo. Em 2015, ela havia ficado em terceiro lugar. Neste ano, Raquel subiu uma posição e teve apenas 34 votos a menos que Dino, que ficou em primeiro.

A subprocuradora tem histórico em processos sensíveis. Ela participou da Caixa de Pandora, operação que flagrou o então governador do Distrito Federal José Roberto Arruda pegando propina. Nessa investigação, como na Operação Patmos – desdobramento da delação da JBS –, áudios gravados por um investigado foram submetidos a um tenso debate sobre sua legalidade como prova. Raquel ainda atuou na equipe que processou criminalmente Hildebrando Paschoal e o Esquadrão da Morte.

Colunistas de Brasília afirmam que, ao contrário de Janot, Raquel teria uma boa relação com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, crítico do que considera “excessos” do MPF na Lava Jato. De acordo com a própria subprocuradora, as prioridades do Ministério Público devem ser a promoção de igualdade e direitos humanos. 

Ela escreveu artigos sobre Objetivos do Milênio da ONU e a Procuradoria brasileira. Também atuou como perita em casos de escravidão.