Acusada por uma vendedora de loja de ter furtado seu próprio casaco, a autônoma Karine Fernandes do Santos Santana, 26 anos, foi até uma delegacia em Madureira, no Rio de Janeiro, prestar queixa de calúnia e difamação. Porém, saiu de lá acusada pelos policiais.

De acordo com o jornal Extra, a jovem teria passado por uma situação constrangedora no dia 11 de maio quando entrou em uma loja de roupas, provou uma peça, mas saiu sem comprar nada. Uma vendedora a abordou, já em outra loja, acusando-a de ter furtado o casaco preto que estava em suas mãos.

“Ela (a vendedora) me abordou, puxou meu casaco e começou a falar que eu tinha pego da loja. Fui me defendendo, falando que era um absurdo e ela dizendo que as câmeras iriam provar (que ela estava falando a verdade) e eu dizendo que era aquilo mesmo que eu queria (as imagens das câmeras). Eu comecei a chorar, minha voz estava trêmula”, relembra.

Karine acompanhou a vendedora na tentativa de recuperar seu casaco. De volta à primeira loja, houve discussão e constrangimento, até que um segurança ameaçou agredi-la. Ela ligou pra o 190 e para familiares e aguardou por cerca de duas horas. Quando os policiais chegaram, tentaram convencê-la a não levar o caso à delegacia. Na DP, os constrangimentos teriam continuado, dessa vez por parte dos agentes.

“Eu arrisco dizer que o atendimento na delegacia foi pior do que a acusação de furto, porque também aqui tentaram me persuadir a não levar o caso para frente. Enfim, tratando como se fosse um caso bobo. Tinha ainda o menosprezo como mulher e preta. A partir do momento que eu disse que ia levar pra frente, gritaram em alto e bom som que eu seria indiciada por furto”, conta.

No último dia 17, segundo informações, Karine retornou à delegacia com a nota fiscal do casaco e algumas fotos para provar que era dona da roupa. Só então ela conseguiu sair com um termo de declaração, no qual pede para reverter a acusação contra a vendedora, pelo crime que originou a sua ida ao local, na semana anterior.

Apesar de comprovada a sua inocência, Karine ficou sem o seu casaco. “Fiquei desnorteada em casa caçando essa nota, encontrei ela, trouxe aqui, mas não consegui recuperar meu casaco, pois estão dizendo que foi para a perícia”, informou a jovem ao jornal Extra.

O caso será acompanhado pela advogada Roberta Cristina Eugênio que deve monitorar a apuração da atuação dos policiais junto a Corregedoria da polícia Civil e pretende encaminhar o caso de Karine à Defensoria Pública do Estado, por meio do Núcleo Contra a Desigualdade Racial.

“Embora não tenha havido uma acusação verbal de cunho racial, Karine sente que na verdade a abordagem se deu pelo fato de ela ser negra. É um caso que reverbera para o racismo estrutural na sociedade e mostra como as pessoas negras são tratadas.”, disse a advogada.