A crise econômica em que o Brasil está inserido impacta, principalmente, o mercado de trabalho, que caminha para uma lenta recuperação. Conforme o último balanço divulgado pelo governo federal, o Brasil tem agora 14,2 milhões de desempregados no trimestre encerrado em março. Número recorde e preocupante. A busca por um trabalho formal em meio a esse cenário de instabilidade é ainda mais desafiadora para mulheres, homens transexuais e travestis, que enfrentam uma série de obstáculos em busca de uma posição no mercado. O primeiro deles está no reconhecimento e entendimento da sociedade quanto à temática que envolve a identidade de gênero, assunto que ainda é tabu para muitos. Saber diferenciar o conceito biológico do social é de suma importância para a compreensão da identidade transgênero. O Jornal do Tocantins apresenta a questão a partir de uma série com três reportagens sobre o tema. A pessoa transexual é aquela que identifica-se e expressa sua identidade de gênero, diferente da designada no nascimento. O sexo psicológico diverge do morfológico. Já as travestis não têm a chamada disforia com a genitália, tem toda a aparência feminina e aceitam a genitália com a qual nasceram. Uma série de pesquisas está sendo realizada por cientistas para demonstrar que as pessoas transgêneras não devem ser classificadas como portadoras de transtornos mentais, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), no que refere-se à Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Um desses estudos é desenvolvido por cientistas mexicanos. Essa e demais pesquisas sobre a temática devem ser apresentadas em 2018 durante a discussão da 11ª versão da CID-11.Até pouco tempo era consenso geral de que a falta de qualificação era o principal entrave para que a população transexual e travesti no Brasil conseguisse um emprego formal, mas a realidade vem mudando, mesmo que em passos lentos, como acredita a presidente da Rede Nacional de Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans do Brasil (Rede Antra), Keila Simpson Sousa. Para ela, a maior dificuldade é a falta de oportunidade. “O primeiro entrave começa quando essa pessoa vai disputar o mercado formal, a identificação no registro civil divergente de sua realidade já provoca um constrangimento e desperta o preconceito. Os empregadores não estão preparados para lidar com questões de gêneros”, observa Keila.A presidente destaca que a falta de qualificação está em segundo plano e que existem muitos bons profissionais em campo, com ótimas qualificações para desempenharem a função na qual se habilitam a ocupar, mas que não ganham uma chance para mostrar suas habilidades.Mas na visão de Lídio Fernando Yale Vieira, ativista e pesquisador na área de gênero e sexualidade e políticas públicas, a falta de qualificação é a maior dificuldade enfrentada. “O espectro geral disso está no preconceito sofrido nos ambientes escolares que acaba ‘expulsando-os’ e fazendo com que grande parte das pessoas transgêneras não termine o ensino básico - especialmente aquelas que começam o processo de hormonização ainda jovens”, esclarece.Há oito anos trabalhando com carteira assinada e todos os direitos garantidos, a transexual Thatyane de Miranda, de 28 anos, comemora cada conquista. “Meu primeiro e até o momento o único emprego é em uma lanchonete na Capital, onde sou respeitada e aceita como sou. Mas na realidade, as pessoas transgêneras são vistas de forma diferente e na maioria das vezes marginalizadas. É preciso que haja mais oportunidade para que essas pessoas tenham o mínimo de dignidade”, alerta.