O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a fazer uma ilação inexistente entre sua visita a Moscou e o anúncio da retirada de parte das tropas russas que se exercitavam em torno da Ucrânia, o que leva o Ocidente acusar Vladimir Putin de querer invadir o país vizinho.

Falando a jornalistas no final de sua agenda em Moscou, que incluiu duas horas de encontro com Putin no Kremlin, Bolsonaro disse: "Alguns países achavam que não deveríamos vir. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira".

"A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz", afirmou.

Os países citados são os EUA, que fizeram gestões para tentar impedir a visita, que de resto recuperou uma linha anterior do Itamaraty de buscar equidistância de grandes potências --que havia sido rompida pelo próprio Bolsonaro, na gestão encerrada no ano passado de Ernesto Araújo como ministro da área.

É a segunda vez que o presidente sugere tal despropósito. O anúncio da retirada das tropas ocorreu na manhã da terça (15), no horário moscovita, feito pelo Ministério da Defesa da Rússia pouco antes do encontro entre o premiê Olaf Scholz, da Alemanha, com Putin.

Horas depois disso, ainda em voo para Moscou, Bolsonaro postou no Facebook uma foto da notícia acerca da retirada e três frases: "Já estamos no espaço aéreo russo", "Fuso: + 6 horas", "Bom dia a todos".

Foi o suficiente para que fosse iniciada, nas redes bolsonaristas, um impulsionamento de mensagens e memes associando Bolsonaro à decisão de Putin, que de resto está sendo contestada como inverídica até agora pelos EUA e pela Otan (aliança militar ocidental).

O filho Eduardo, deputado federal pelo PL-SP, deu a senha e promoveu as hashtags "BolsonaroEvitouaGuerra" e "BolsonaroNobelda Paz". Houve, evidentemente, reações no sentido contrário, ridicularizando o presidente.

Na conversa, Bolsonaro minimizou o "timing" de sua visita e disse o que já havia falado antes, que apenas apoia países que querem a paz. Voltou a dizer que "todos países têm problemas".

Questionado se ele teria enviado alguma mensagem à Ucrânia, deixou o púlpito improvisado e tentou interromper a entrevista.

Voltou, respondendo também que havia feito "tudo o que havia sido acordado" em termos de testes de RT-PCR para detectar o novo coronavírus.

Falou sobre os negócios discutidos na viagem, em particular o interesse mútuo em fertilizantes dos dois países: a Rússia é grande produtor e o Brasil, importador. Uma fábrica desativada da Petrobras em Minas será comprada por um grupo russo para estabelecer uma linha firme entre insumos e produto final.

Bolsonaro também usou a costumeira metáfora matrimonial para falar sobre sua curta e arriscada visita, pouco mais de um dia. "Mais que casamento perfeito o sentimento que levo para o Brasil" do encontro com Putin.

Ele voa nesta quinta (17) para a Hungria, onde se encontra com líderes do país, incluindo o premiê Viktor Orbán, uma estrela do circuito populista conservador mundial. Depois, volta ao Brasil no mesmo dia.