Márcio Greick, jornalista, acadêmico de Direito (Unitins-Paraiso)
No dia 12 de outubro, Dia Das Crianças, presenciei uma cena que me deixou muito pensativo sobre as relações humanas, sobre ajudar o próximo, empatia e solidariedade.
Ao acordar, despertou-me a criança que existe em mim, então resolvi fazer umas compras no supermercado para passar o feriadão. Ao chegar naquele supermercado, percebi que havia um espaço reservado às crianças, com a distribuição de salgadinhos, sucos e refrigerantes, salvo engano.
Depois que escolhi alguns produtos da cesta básica, me dirigi a um dos caixas e fiquei aguardando na fila. À minha frente, uma senhora aguardava sua vez. Próximo a nós, uma moça bem vestida, elegante, de cabelos amarrados, estava à posta, à espera de alguma criança, para servi-la com aquelas delícias de guloseimas. De frente a ela, um rapaz oferecia sucos e refrigerantes à garotada. Mas, no momento , não havia nenhuma criança por perto.
De repente a senhora que estava à minha frente saiu da fila e se dirigiu àquela moça, e num movimento espontâneo tentou pegar um dos salgadinhos, onde foi imediatamente reprimida pela jovem, ao dizer que os salgadinhos seriam servidos somente às crianças. Foi quando ouvi a senhora balbuciar a seguinte frase: - Eu também sou criança! Percebi que a moça permaneceu inerte, não esboçou nenhuma empatia ou simpatia pela senhora, negando-lhe a servir o salgadinho.
Em seguida, a senhora então retornou para a fila e me olhou com um sorriso sem graça, demonstrando visivelmente sua frustração. No olhar, estava visível como se dissesse, eu só queria me sentir como uma criança hoje, e repetiu a frase para mim: -Eu também me sinto uma criança. Fiquei sem palavras, não soube como confortá-la.
Ao ser atendida pela caixa do supermercado percebi a dificuldade da senhora para pagar sua compra ao juntar as últimas moedinhas de uma bolsinha com zíper, que ela carregava, para pagar um sachê de um tempero.
Comentei com a caixa sobre o ocorrido ela esboçou um “È complicado”, e eu disse a ela, que aquela senhora poderia ter inventado que iria pegar os salgados para o neto ou netinha, ou para algum filho, mas que na verdade ela estava com vontade de comer e queria se sentir agraciada com aquele salgadinho, ainda mais, no dia Das Crianças.
Ao chegar em casa, enquanto guardava minhas compras, fiquei pensando sobre a política da empresa ao criar um ambiente destinado às crianças em comemoração ao dia delas, e não pensar na hipótese de que algum pai, ou mãe, avô, avó, demonstrasse interesse em consumir também aquelas guloseimas.
Algum leitor pode me achar infantil e dizer que a moça que disse o Não à senhora, estaria apenas cumprindo ordens dos chefes. Mas, ora bolas, e a empatia, a sensibilidade pelo próximo, custava-lhe dar um salgadinho àquela senhora, quando ela disse com um sorriso de criança -“Eu também sou criança”? Até porque, não tinha nenhuma criança na fila para ser atendida e pelo que percebi, aquela bandeja de salgadinhos já estava quase no fim.
Quando olhei para mesa, tinha menos da metade de um cento de salgadinhos, o que representaria para a empresa num universo de 100 crianças, que se destinasse 1 ou 2 salgadinhos para um pai, uma mãe, ou uma avó, que também queria se sentir privilegiada naquela data?
Fiquei imaginando, no final do dia, a moça fazendo as contas na planilha excel, e informando ao chefe, que daquele cento de salgados, sobraram 10 salgadinhos, e quanto seria o prejuízo para aquela empresa?
E o marketing empresarial? Já pensou se aquela senhora que recebeu um “Não” daquela moça, fosse agraciada com o salgadinho, e saísse de lá, contando aos amigos, familiares, que no dia das Crianças, ela também se sentiu como uma criança, ao receber das mãos da moça do supermercado tal, doces e salgadinhos? Mas com certeza, ela ao chegar em casa narrou uma outra história ou não contou a ninguém, ao sentir-se envergonhada ao ser preterida pela moça ao dizer que também se sentia criança e queria provar também do gostinho de “ser criança” no dia 12 de outubro.
Faltou empatia da moça, ao não ficar sensibilizada quando a mulher, após receber uma não, retrucou: “Eu também sou criança”, faltou expertise da empresa em aproveitar a oportunidade de homenagear às crianças, e ao mesmo tempo, encantar seus clientes.
Àquela senhora que não ganhou o salgadinho no Dia da Criança, eu quero desejar-lhe tudo de bom, e que nos próximos anos ela continue se sentindo uma criança, no Dia 12 de outubro, pois, com certeza a criança que existe dentro dela, é maior, que aquela empresa.
Márcio Greick
Jornalista, acadêmico de Direito (Unitins- Paraiso do Tocantins)
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