Vinícius de Moraes em seu Soneto de Separação expressou magnificamente  a fugacidade  e a efemeridade da vida. E como isso tem se mostrado tão claro e ao mesmo tempo tão chocante para mim. 

Você que é adulto, MADURO, já levou uma queda, um tombo, assim do nada? Daqueles que quando viu já estava no chão? Pois é. Hoje, do alto dos meus 47, quase 48, levei um desses tombos. Isso mesmo! Me esborrachei  de cara no chão. E o melhor, ou pior, na rua. Sim. Ao terminar de atravessar a rua. Ao subir na calçada. Não. Não tropecei  em nada, mas também não sei dizer como foi. Só caí.

(In) felizmente não havia ninguém por perto. Logo passou um carro, mas quem nele estava possivelmente estivesse apressado, não tinha tempo para socorrer uma jovem senhora madura ao chão. Que sensação estranha! Vontade de chorar. Ainda pasmada com o ocorrido, sigo em direção ao meu destino.

Mas a minha reflexão hoje não é sobre jovens senhoras maduras que caem do nada. Rsrsrs na verdade, a queda foi só o meio encontrado por Deus (acredito eu) para mais uma vez me lembrar a quem pertence todas as coisas, quem está no controle de tudo, quem governa a minha, a sua, a nossa vida. Simples assim. E alerto aqui, não tem nenhuma relação com castigo, culpabilização. Nada disso. Ao contrário, entendo muito mais como bênção, como oportunidade de exercitar a humildade.

Vejam só. Desde ontem à noite, já havia me programado para ter uma manhã de folga beeeem proveitosa e tranquila. Ir cedo, a pé, para a academia, voltar, fazendo uma turnê pela casa da manicure, pela matriz ( paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus)pra dar uma olhadinha nas plantas depois, ir à Postel (igreja) molhar as plantas, voltar pra casa, tomar aquele banho, estudar e corrigir umas provas. Em seguida, cuidar do almoço. Tudo bem planejado. De boa. Sem estresse. Até que, chegando à academia, (a pé) me esborracho no chão. Ah esse "até que"!!!

De repente, não mais que de repente, a dor na mão esquerda, apesar do gelo providenciado pelo instrutor da academia, intensifica-se. Plano inicial frustrado. Pronto socorro é o destino. Ortopedista. Raio-x.

Privilégio de pertencer a uma raça superior kkkkkkk (palavras do médico). Nada quebrado, nem fraturado. Tudo tranquilo. Medicamento pra dor. Destino, casa. Marido, trabalho.

E vida que segue... Sem malhar, sem olhar nem molhar as plantas, sem estudar nem corrigir provas (pelo menos, por essa manhã que já se vai), e está tudo bem. Agora, é só refazer os planos, só reprogramar. Vida que segue. Que bom que segue.

A do Alcides, meu ex-aluno, não seguiu, ao menos aqui nesse plano. Ele queria seguir carreira militar. Saiu de um retiro espiritual para fazer uma prova de vestibular, mas lá não chegou. Um acidente de trânsito mudou a sua rota. E mudou também a rota de três pessoas que receberam seus órgãos doados pela generosidade e amorosidade dos seus pais, que também tiveram suas rotas alteradas, assim como todos aqueles que amavam o Alcides e até quem não o conhecia. Nenhum de nós, especialmente, seus colegas de classe e do pelotão de elite, do qual fazia parte, havia planejado, sequer pensado, estar numa tarde de uma quinta-feira letiva, prestando homenagem póstuma a ele, no estacionamento do HGP. Triste. Surpreendente. Instigante.

O que podemos fazer com tudo isso? Cada um, na sua liberdade e individualidade, deve se responder isso e que essa resposta seja célere e frutuosa, porque "de repente, não mais que de repente do riso pode se fazer o pranto."