Os casos de estupros coletivos no Brasil estão ganhando repercussão e noticiabilidade internacional. Na noite desta quinta-feira (26), a ONU Mulheres Brasil divulgou uma nota pública se solidarizando com as duas adolescentes vítimas de estupro coletivo. 

Um dos casos aconteceu no Rio de Janeiro, em que uma adolescente foi violada por mais de 30 homens. O outro ocorreu em Bom Jesus (PI), com a vítima sendo atacada sexualmente por cinco homens.

Os crimes causaram fortes reações nas redes sociais. Internautas manifestaram indignação, prestaram solidariedade às vítimas e se mobilizaram para denunciar os suspeitos do estupro, replicando suas postagens e levantando informações sobre eles.

A expressão "estupro coletivo" passou a figurar entre as mais buscadas no Facebook; mais de 35 mil usuários a usaram em postagens nas quais comentavam o crime. Eventos de protesto foram marcados para diferentes cidades do país e mais de 150 mil usuários trocaram as suas fotos de perfil por uma com uma mensagem contra a 'cultura do estupro'.

Os crimes causaram uma onda de postagens nas redes sociais de usuários exigindo que os casos sejam investigados e os culpados punidos. No comunicado, a ONU Mulheres solicitou aos poderes públicos dos estados do Rio de Janeiro e do Piauí que seja incorporada a perspectiva de gênero na investigação, processo e julgamento de tais casos “para acesso à justiça e reparação às vítimas, evitando a sua revitimização”.

Leia na íntegra o comunicado 

"A ONU Mulheres Brasil se solidariza com as duas adolescentes vítimas de estupro coletivo: uma, no Rio de Janeiro, violada por mais de 30 homens, e outra, em Bom Jesus (PI), vitimada por cinco homens. Além de serem mulheres jovens, tais casos bárbaros se assemelham pelo fato de as duas adolescentes terem sido atraídas pelos algozes em tramas premeditadas e terem sido violentamente atacadas num contexto de uso de drogas ilícitas.

Nesse sentido, a ONU Mulheres solicita aos poderes públicos dos estados do Rio de Janeiro e do Piauí que seja incorporada a perspectiva de gênero na investigação, processo e julgamento de tais casos, para acesso à justiça e reparação às vítimas, evitando a sua revitimização.

Alerta, ainda, que uma das formas com que a revitimização se dá é pela exposição social da vítima e dos crimes, incluindo imagens e vídeos em redes sociais e demais meios de comunicação, em ações de violação do respeito e da dignidade das vítimas, entre eles a falta de privacidade, a culpabilização e os julgamentos morais baseados em preconceitos e discriminações sexistas.

Como crime hediondo, o estupro e suas consequências não podem ser tolerados nem justificados sob pena do comprometimento da saúde física e emocional das mulheres, às quais devem dispor de todas as condições para evitar a extensão do sofrimento das violências perpetradas.

Deste modo, urge o pleno atendimento da Lei 12.845/2013 de atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual, com profilaxia de gravidez e antirretrovirais, em consonância com normativas internacionais, a exemplo da Declaração sobre a Eliminação das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Por fim, a ONU Mulheres reforça a necessidade de garantia e fortalecimento da rede de atendimento a mulheres em situação de violência e de órgãos de políticas para as mulheres e profissionais especializadas e especializados em gênero em todas as esferas governamentais, para o pleno atendimento às vítimas, primando pelo cumprimento de protocolos, pela celeridade e pela humanização nos procedimentos de saúde, psicossocial e justiça em todas as etapas do atendimento às vítimas e seus familiares, assim como a rigorosa punição dos agressores.

À sociedade brasileira, a ONU Mulheres pede a tolerância zero a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização.”

Nadine Gasman
Representante da ONU Mulheres Brasil

 

VÍDEO
Além do vídeo, também foram colocadas na internet fotos dos órgãos sexuais da jovem, com ferimentos visíveis. "Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu [sic]? kkk", escreveu no Twitter um homem, numa postagem com foto da vítima.

Segundo a polícia, o vídeo foi gravado na noite do último sábado (21). A jovem estava desaparecida, mas foi encontrada por um agente comunitário e levada para casa nesta quarta (25).

À rádio CBN, a avó da adolescente disse que ela costuma sair de casa e ir para comunidades desde os 13 anos. Disse ainda que ela é usuária de drogas há quatro anos e tem um filho de três anos.

Policiais já identificaram três homens que teriam participado do caso. Um deles seria morador da favela de Cidade de Deus e outro do bairro de Santa Cruz, ambos na zona oeste da cidade. O terceiro identificado teria sido responsável por postar o vídeo na rede social.

Responsável pelo caso, o delegado Alessandro Thies pediu que aqueles que tiverem qualquer informação que possa auxiliar na identificação dos autores entrem em contato pelo e-mail alessandrothiers@pcivil.rj.gov.br